Diário de Sonhos - #116: Fora do Vidro
Sonhei que estava no meu trabalho, na bilheteria do Metrô. No entanto, o layout da estação era bem diferente daquele que eu estou acostumado. Há novos corredores, novas escadas, novos acessos, e os antigos sumiram ou foram remodelados. É praticamente uma nova estação, mas ainda acho que estou na antiga, pois conheço exatamente que lugar dá em que lugar.
Estou dentro da bilheteria, que está situada no final de um longo corredor. À esquerda do corredor há uma escada subindo. Está tudo muito escuro e silencioso. Dois sujeitos estranhos aparecem e pedem bilhete com uma nota de cem. Digo que não tenho troco e mando esperar. Um dos caras fica bravo e começa a xingar e bater no vidro com força. As luzes piscam, apagam e acendem. Está mais escuro. Os caras estão parados, estáticos, olhando pro chão. Uma sombra cobre seus rostos. Ouço barulho de água e percebo um vazamento dentro da bilheteria. As luzes piscam, apagam e acendem outra vez. Agora está ainda mais escuro. Apenas algumas poucas lâmpadas acesas. Não há mais escada, apenas um longo e escuro corredor. O vidro, que me separava dos caras estranhos, já não existe mais. Sou apenas eu e o corredor, porque também não vejo os caras. Um sussurro encostado ao meu ouvido esquerdo "hey". Olho pra trás e só vejo a parede. Olho pra frente de novo e vejo os dois caras, totalmente de preto, lado a lado, virados de frente pra mim, fitando o chão com a mesma expressão imóvel de antes. Eles têm a mesma altura, as mesmas roupas. Parecem até a mesma pessoa duplicada. Pisco e agora só tem um deles. Sinto uma presença. O outro está ao meu lado, mas é muito alto de perto. Parece ter uns três metros de altura e olha para o chão, diretamente para mim. Apenas sombra. Não vejo seus olhos.
São Paulo, doze de abril de dois mil e dezessete.