O IMPONDERADO
Um sujeito, filósofo de formação (independente do que isso signifique), chamado Luiz Felipe Pondé, afirmou em uma programa jornalístico de TV que vivemos na "era de pós-verdade"*. Será essa afirmação mais uma pós-verdade? Então tentarei aqui deslindar minhas pós-verdades sobre esse assunto. Não sei o que significa afirmar isso e de suas sábias implicações. A vantagem de uma era de pós-verdade, é que podemos nos arriscar a dizer qualquer coisa ou palavra. Basta haver alguma força de persuasão para convecer o interlocutor da aceitabilidade de uma narrativa. Pondé disse isso com muita convicção, com a certeza de quem detém a posse de uma verdade arcana por ele descoberta e revelada. Como uma pitonisa cheia de uma verdade da qual ninguém se dá conta. Dá impressão que sua afirmação, e nesse caso só ela, é detentora da mais absoluta verdade. No programa discutiam o que fazer no caso sírio depois do ataque químico, e ele emitiu o que era para ele aceitável fazer e porque isso deveria ser feito. Ele deu sua narrativa mais aceitável, retoricamente e supostamente mais coerente e por isso mais justa de ser realizada. Aliás, uma justiça mais que pragmática e casuísta. Fica parecendo que não existe mais verdade, exceto a de que fala Pondé. É o que Foucault, em a Ordem do discurso chama de "discurso interditivo", ou seja, um discurso que não quer dizer, sim desautorizar, interditar, que os outros digam. Só para lembrar, Pondé foi o mesmo pensador que disse que o Viagra fez mais pela humanidade do que 200 anos de marxismo**. Não sei a razão dessa comparação inusitada e inesperada, a não ser que ele entenda o marxismo como algo broxante que oblitera a virilidade do homem ocidental. Mas a afirmação, que é só uma frase de efeito e pretensamente humorística, esta vazada de machismo e misoginia indicativa de que houve um processo de "crepúsculo do macho" ocidental. O Viagra restauraria a virilidade varonil de nosso machão, que não existiria mais desde a época daquelas histórias meio X-men narradas na Bíblia. Homens machos que feneciam diante mulheres fortes e imperativas encontram sua redenção por meio de uma química azul. O que isso tem haver com o marxismo? Pelo que eu saiba o feminismo nada tem haver com o marxismo. Mas que diferença faz! Não há como contestar a narrativa de Pondé acerca da história ocidental, afinal de contas o que ele diz não passa de uma afirmação típica de uma triste época de pós-verdades. Outro aspecto sobre a afirmação de Pondé (que aliás nem é dele, é uma expressão típica do chamado pós-modernismo), é que se pensarmos que estamos na era da tal pós-verdade, a era anterior seria a era da verdade. Cabe pensar também como temos decaído em termos de pensamento. Aliás eu posso dizer sobre Pondé o que bem entender, por isso vou parar por aqui e por ora.
* Me abstenho aqui em tentar explicar o que ele diz com isso. Acho que não sei o que é filosofia.
** Vou desconsiderar o fato de Karl Marx, o autor do suposto marxismo, ter nascido em 1818, portanto se estivesse vivo só faria 200 anos no ano que vem. Sem contar que Marx começou a ser um pensador famoso só depois dos trinta anos e que seus escritos repercutiram só depois de sua morte em 1883. Assim como o cristianismo só surgiu depois de Cristo, o mesmo pode ser afirmado do marxismo.