INVÓLUCRO

Talvez não imagines o que a condenação ao pensar faz com os neurônios da gente. Mas, ao menos, estamos na resistência, cuidando de fazer a ação do tempo nem tão deletéria. Ao menos sobre os neurônios, porque o resto é invólucro. No entanto, apesar da modernidade líquida, volúvel, diluída, do transitório, do imediatismo da época em que vivemos, restam as amizades antigas (como a nossa) a bater o sino da saudade e a acionar a buzina de um automóvel anfíbio movido a luz solar. Atuando no mundo como um grão de areia no mar das inquietações. Porque o homem é o mesmo. É o seu comprometimento com o mundo que o dimensiona. Estamos vivos, pretendendo que o futuro nos leve ao Absoluto. Sabe-se lá se Ele terá tempo e disposição para nos receber sem pompas e circunstâncias. Por certo, chegaremos cansados e prontos pra dormir no seu colo como um bebê que tomou o leite materno...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2017.

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