Colcha de retalhos
Cada pessoa lida com a dor de uma maneira. A minha quando arranha a alma sempre lava-me os olhos. Mas, ora, veja, o logo é tão daqui a pouco que o agora, da mesma forma, é tão somente um sonho breve que o amanhã se alegra em recordar.
Há, pois, tanta saudade habitando em mim. Tanta saudade assim... Saudade suave, de pessoas e coisas habitando, tal é a órbita, ocupando o mais de mim... Tanto que em mim não cabe, ah, essa saudade; que tem nome, endereço e telefone; que não me liga, não me visita, não reclama, mas me perfuma qual um jardim. Hora ou outra, presumo, sentirá falta de mim.
Somos em parte acaso, em parte escolha, mas essencialmente vida. Há aqueles que são essencialmente acaso, o que é em parte também uma escolha. Há, ainda, aqueles que são inflexivelmente escolha, esses não o são por acaso.
Somos não por acaso, em parte libertos, em parte reféns de nossas escolhas, mas essencialmente vida.
Perdi na infância o herói, a inocência, até uma engenharia. Perdi inclusive um banco inteiro, algum imobiliário... Em verdade, perder faz parte: da lágrima sentida, das lições aprendidas, de um coração que é forte. Perder não é nada sério, mas dói se sincero.
Teimo em sonhar, em confiar, em acreditar. Teimo, teimo e teimo. Teimar é uma arte!
De resto, você me escapa por entre os dedos, poeira, vento, vão. Você escapa de si mesmo. Momentos, instantes, solidão. Você e eu palavra bonita, poesia escrita, se se passa da linguagem para o ato. Mas, há esse hiato. Na pronúncia uma distância, um hífen, nesse ditongo que se tornou nós dois.