Paris Hilton Tropical

 

 

            Conheci a pessoa mais feliz do mundo. E não é um monge isolado no Tibet em permanente meditação. Devo dobrar e torcer meu braço para a socialite Wilma Magalhães, loira clonada, que brilhou em reportagem das páginas amarelas, não amareladas, da Revista Veja Ano 40 (quase a minha idade) nº 31.

 

            A moça (moça? - forma de dizer) de 45 anos arrasou, como diria o deputado amargo e ex-costureiro Clodovil (símbolo de decepção do povo para com o Congresso Nacional), ao manifestar seu modo de viver e de pensar ao mundo são e sacro-cristão.

 

            A “mega-star” que enriqueceu, graças ao negócio de factoring e prestação particular de serviços íntimos e de caráter lúdico a políticos e magnatas que perambulavam por Brasília, segundo as más e mal versadas línguas, foi presa, mesmo sendo milionária.

 

            Ela é uma versão tropical da Paris Hilton, com a exceção de ter feito carreira graças ao seu intelecto notável e capacidade de abrir picadas e oportunidades na capitalista extensão do Planalto Central.

 

            Existem diferenças notáveis entre a nossa Paris e a dos americanos. A nossa não nasceu em berço de ouro, embora, ao fim da entrevista, afirme que o metal precioso tudo tem a ver com ela: “brilha e é alegre”. A jovem alpinista social sofreu um revés e teve que visitar o xilindró, mas considera-se em um “spa” urbano e acha que as guardas do presídio “parecem enfermeiras, de tão limpinhas e arrumadinhas”.

 

            Não sei a opinião de Paris, mas com certeza não pensou a mesma coisa. A menina ainda declara ser inocente, mas quem não é? Se mesmo Eva foi expulsa injustamente do paraíso e ainda tentou jogar toda a culpa na serpente, “eu não, eu não” – disse o réptil que ainda não rastejava. Cabe aqui uma interrogação entre aspas “?” Se a serpente não rastejava, se locomovia como? De quatro patas que foram arrancadas ou pulando após enrolar-se sobre si mesma, como uma mola de colchão? São perguntas sem resposta que continuam a pulular em nossas mentes inquietas.

 

            Gostei mesmo quando Wilma, olhe que é outra Wilma, e não aquela que roubou o Pedrinho – quem ainda se lembra ? – declarou que fez até um enxoval para o presídio: todo branquinho e novinho. Ela vai doar tudo ao sair do cárcere de consumo. Ainda afirma que é muito popular na prisão e que todos adoram quando ela chega.

 

            Seu lema antes da prisão era de que “a vida é uma festa” e que agora continua uma festa. Em um domingo comeu lasanha em uma caixinha, que esquentou no microondas e bebeu suco de uvas. Imaginou estar comendo na Itália e bebendo um vinho tinto caríssimo em Bordeaux.

 

            Não atirarei pedras na Wilma, afinal, durante a entrevista ela comentou um pecado, dentre muitos, a respeito do qual está perdoada, e que coloca um ponto cabal na construção da sua personalidade, esclarecendo e não renegando a profundidade da sua natureza: ela votou no Lula.