OS 3 MOSQUETEIROS "ANANINS"
OS 3 MOSQUETEIROS "ANANINS"
(Esta crônica é dedicada aos amigos de infância
A. Spisla e A. Cansian, que invejei enquanto
narradores daquela época. - "NATO" AZEVEDO)
Relembrar Carlos Lima e seu esforço para que a associação de escritores da capital tivesse uma revista -- mesmo que feita em papel-jornal -- me trouxe à memória outros exemplos épicos, como o do blogueiro-poeta Rui Santana, aqui mesmo nessa Ananindeua tão inóspita para as coisas da Literatura, "deserto cultural" sem cinemas nem teatro, sem festivais nem pintores, fotógrafos, escultores, etc.
E olha que são 200, 300 ou meio milhão de almas, conforme as estatísticas eleitorais, tão inconfiáveis quanto os candidatos ou os "políticos" que cada novo pleito (re)elege. Conheci um jovem petista batalhador, Juscelino Souza, em 1988/89... pouco depois se tornou vereador, jurando defender a Cultura a qualquer custo. Sozinho na Oposição, "encurralado" e silenciado politicamente, não teve 1 só projeto seu aprovado, êle que sonhava criar a LIC - Lei municipal de Incentivo à Cultura. Somente em 2002, salvo engano, a partir de reunião agendada pelo pessoal do CENTUR (leia-se Governo do Estado) na nova sede do Rotary Club, se começou a providenciar a aprovação da tal Lei, sob "as asas" do então médico-vereador dr. Nonato Sanova, lei que levou seu nome merecidamente, todos concordam.
Alguém sabe quando a LIC começou a vigorar ?! Apenas em 2010, às vésperas de outra eleição, com inscrição de projetos por volta de 2012/13, dizem que com 40 ou 44 deles... quantos foram aprovados, quais conseguiram o MILAGRE de receber verba de empresas que só entendem como Cultura (?!) baile e bingo -- de preferência juntos -- ou concurso de misses juvenis, ninguém sabe, ninguém viu. De lá para cá, silêncio sepulcral e nenhum sinal da tal LIC !
Rui "Baiano", digo, Santana, deixou de lado em 2008 seu projeto de livro nacional de poetas e temática negros para se dedicar ao lançamento de modesta antologia contemporânea (e urbana) de poetas locais, meia dúzia, eu entre êles... pois não é que 2 tiveram o desplante de "calotear" o abnegado editor, dando-lhe belo prejuízo !!! Esse "triste destino" está no caminho de quem queira se aventurar no ramo !
Provei do "castigo" em 1986/87, quando lancei a antologia (de 16 pags, em xerox) "LIVRENCONTRO" na simpática cidade de Vigia. Já Cláudio Cardoso, da (extinta?) editora Chromos, me confessa que teve dissabor semelhante em passado recente, em Belém, e acumula prejuízos até hoje.
Mesmo assim continuam a nascer e a despontar apóstolos da Cultura, "cruzados" a levar com garra e na marra a desbotada e esfarrapada bandeira da Literatura, não se sabe porquê, ninguém sabe para onde. Destaco entre êles 3 negros de valor, três sonhadores, trio de insanos amantes da literatura, indo de casa em casa, batendo de porta em porta, "incomodando" diretores de EPs e "autoridades" várias para cederem sala para as parcas reuniões mensais. Às vezes sábados de manhã, por vezes domingos vazios e sonolentos e, em desespero de causa, num dia qualquer da semana, de noitinha. Chegava-se a ousar, levando um músico e seu violão para "quebrar" o desânimo e incredulidade de uns quantos -- me somem à êles -- que anteviam a inutilidade de tudo aquilo, mas prestigiavam o esforço sincero desses heróis.
Anotem esses nomes, esta gélida Ananindeua deve-lhes um preito de gratidão e, se estiverem vivos, algum tipo concreto de homenagem: LUCINERGES COUTO -- que cansou-se da luta inglória e "partiu" faz um bom tempo -- seu (e)terno seguidor ERON(ílio) CARVALHO e um certo ANESTOR (que morava perto do Eron), cujo sobrenome eu nunca soube ! Com bons contatos entre os escritores de Belém e já tendo editado seu livro de poemas DILEMAS --às próprias custas apesar dos imensos sacrifícios -- Eron foi o elo de ligação entre Lucinerges e Anestor, que sucederia o denodado velhinho no sonho de fazer existir (e resistir) um grupo de escritores nas plagas ananins. Desde fins de 1987 Lucinerges aglutinava simpatizantes entre comerciantes, "camelôs", jornaleiros, donas de casa e com quantos mais êle tinha algum contato.
Em meados de 1988 surgiu o "Amigos Especiais de Ananindeua", com reuniões aos sábados pela manhã na antiga Biblioteca Municipal, enquanto esta existiu. Por volta de 1989 assume por breve período a direção do grupo o jovem manauara Felipe Sil, que lança seu livro de estréia como poeta ali e muda o nome do grupo para "Depto C", novidade recusada pela maioria. Em 1990, a partir de um concurso interno, se registra em ata o titulo de ALA-A (criação minha), com logotipo proposto pelo jornalista JORGE GRANHEN, multiartista e "pau para toda obra", apoiando tudo e todos, participando como podia das atividades culturais do Grupo, incentivando, fotografando, registrando em seu tradicional "Jornal de Ananindeua" os atos e fatos relativos à ALA-A - Associação de Letras e Artes de Ananindeua.
Amante incondicional das Letras e das Artes, J. Granhen merece um livro à parte...redator e diagramador de seu Jornal, agenciador e distribuidor adiante, pintor, escultor, fotógrafo e o que mais precisasse, esse homem jamais teve seu valor devidamente reconhecido pelas autoridades do Município. Historiador abalizado da cidade,com êle se foi boa parte da memória do lugar, caso já tenha falecido. Com o fracasso da ALA-A, por inércia, Lucinerges inauguraria em 1993/94 na cidade-balneário Icoaraci um novo grupo, o APIL, depois APLI - Associação Paraense Literária Interiorana, com semelhante e lamentável destino.
Enquanto isso, em nossa Ananindeua, Anestor abraçaria o sonho de Lucinerges Couto, reprisando os mesmos passos e esforços, com resultados praticamente iguais... desinteresse e desistências ! Sobrou de sua luta um programa de poesias numa Rádio Comunitária, no Entroncamento -- que funcionou por um bom tempo -- e contatos com políticos e Partidos que prometeram ajuda... e, claro, jamais cumpriram com a palavra empenhada.
Por volta de 2001,com o PTismo em alta, o novo prefeito (do PMBD) impõe como Secretário "de Curtura" um certo Luís Freitas que, em convocações por vários bairros, reúne e cadastra todo tipo de artista e artesão. Eram novos tempos, a Cultura teria sua chance, voz e vez, finalmente! Desse "carnaval" todo saiu um Feira da Cultura que apresentou artesãos da cidade, um grupo de carimbó e pouco mais do que isso.
Assim findou a "história" da Cultura ananin... o sujeito virou diretor de trânsito, as promessas de um festival de música "y otras cositas más" viraram fumaça e o povo continuou com o que sempre teve: "campeonatos de pelada" com partidas de 10 minutos cada, além de bailes e bingos, com muita cerveja, barulho e "barulho", diga-se de passagem. Meu infinito desgosto só não é maior do que a frustração de ver meus 2 amigos da 2ª Série Ginasial sem escrever até hoje 1 só linha !
"NATO" AZEVEDO (em 8/abril 2017) - poeta, compositor e escritor