ODE A TADEU BAHIA

autor: José Rodrigues Filho

Notívago: o Poeta perambula pelas artérias e becos de sua cidade natal em busca de si mesmo ou de fatos que vivifiquem a intuição poética que caracteriza o Bardo, comumente chamada inspiração.

De portas cerradas, os bares não mais oferecem ao populacho a esfuziante alegria da cachaça promotora de discussões acaloradas que se constituem no alimento criativo do Poeta. Não que o Vate, em alusão, seja um consumidor, por excelência, da branquinha ou de outras bebidas congêneres. Trata-se de um Menestrel da palavra: abstêmio. -Acometido de hepatite na adolescência, após cura complicada, prometeu a si próprio jamais ingerir bebidas alcoólicas-. A participação, contudo, nos debates travados nas esferas do ambiente de bar, sempre forneceu ao Poeta farto material para realização de seu trabalho artístico-literário. Por isso, mais uma noite, o Poeta vagueia buscando sua “cosmicidade”; haverá de encontrar nessa madrugada, pelo menos, um boteco ainda aberto, onde certamente obterá o seu tradicional copo de café, e, obviamente, encontrará pessoas para um frugal bate-papo. Não custa acalentar a ideia de que poderá, com alguma sorte, encontrar alguns dos mais chegados amigos, bebericando de prosa, no boteco que, sofregamente, anseia que surja: Tonho de Piedade... Quem sabe EL, ou Jackson de Kilu... Ou então Zé Rodrigues, em uma de suas costumeiras serestas...

O pensamento do Poeta não para um segundo sequer; as imagens vão se sucedendo em sua fértil mente, que funciona como um arquivo aberto, aguardando apenas o momento em que o Bardo as retratará em forma de rimas e versos. Não param, também, suas pernas que já percorreram todos os cantos e recantos da cidade sem achar o porto que sua inquieta alma busca... Eis que, de repente, chega aos sensíveis ouvidos do Poeta um som melódico, o qual, aos poucos, vai identificando a dorida canção do cantor Carlos Alberto: Aquece-me esta Noite! Estava terminando a longa e inquietante procura do Poeta... uma luz vermelha, do outro lado da pista, indicava o último pouso para o amante da noite: o cabaré brega de Luisinha, em final de função, sim, mas ainda fascinante para acolher as elucubrações de um jovem Poeta da Lapa, sequioso de vivência e trilhando o seu inexorável destino de filho da musa, para honra e glória de Amélia Rodrigues.

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL: “O TRARIPE” DE AMÉLIA RODRIGUES-BA- ANO V – JANEIRO DE 1988 – OBS: Tadeu Bahia é natural de Salvador.

José Rodrigues Filho
Enviado por José Rodrigues Filho em 10/04/2017
Reeditado em 10/04/2017
Código do texto: T5966852
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