A INVEJA, O ELOGIO E O RESPEITO.
É difícil para muitos enxergar nos outros, êxitos, talentos e dons. Vejo muitas considerações no site sobre esses temas, de pessoas com embasamento.
O curial, mediano e comum, é que essa fenomenologia que brota do sentir e da existência de todos não oferece dificuldades para ser constatada a olhos pequenos. Não precisa ser um sábio para situar esses comportamentos. Qualquer um vê esse mapa da alma das pessoas. Por quê? Por transitarem sob nossos olhos. Bastam pequenas lentes para situar.
O invejoso motiva piedade, aquele que sofre sempre por ver nos outros o que queria e não atinge e não atingirá. Cada vez mais mergulha no lodaçal de sua vida inferior, tormentosa de carregar. Ele conhece esse inferno.
Estes seres sempre serão evitados, delegados a segundo plano, estigmatizados, pois carregam com esse trauma de personalidade maior todos os outros em conjunto, com o egoísmo material e espiritual comandando a avareza do corpo e da alma, que se vira contra o próprio avaro, que não consegue usufruir de um conforto mínimo que possa ter. Arde na labareda da instabilidade mental/emocional. E vai tropeçando vida afora em infelicidades somadas. E não se corrige.
Nessa incapacitação não elogia nada nem ninguém, e nem precisa pois nenhum valor tem sua palavra, e ninguém a recebe com consideração, quando muito meia-dúzia de iguais em desvalor, nas trocas e recompensas do mundo que rasteja em avanços.
As vezes disso reclamam, sem perceberem, por insuficiência permanente, que estão à margem de tudo que possa prestar, levam consigo esse plano de trevas. Estão no ostracismo do convívio humano e habitam o purulento demérito. Se não faltam com a verdade, postura padrão de vida, tecem apreciações mancas e forjadas na estupidez.
Da mente habitada pela inveja não se aproxima a virtude. Esse baixo sentimento humano, visível pela forma que se mostra e modo que se expõe, revela sua imensa fraqueza, reverenciando a superioridade do invejado
A arma do invejado reside em que concomitantemente desperta inveja e infunde temor. A força do invejado não é desconhecida pelo invejoso.
A angústia do invejoso, perdido nas vitórias do invejado, espreitadas sempre, sufoca qualquer possibilidade que teria de avançar e crescer, se pudesse. Falta ao invejoso a amplitude de interior para fazer as grandes viagens do espírito.
Nesse caminhar do invejoso recebe-se o desrespeito. E ninguém deve respeitar o desrespeito. Escrevi aqui certa vez, discorrendo sobre respeito:
“Se alguém respeita para obter retorno igual, o respeito de nada valeria, pois a todo movimento há movimento igual, maior, ou menor desencadeado. Entenda-se, estou respeitando para ser respeitado, porque vou ser respeitado, senão não respeitaria. É filosófico. Respeita-se por princípio, por agregação de civilidade. Não respeito esperando respeito, respeito por ser educado, civilizado, distante da imensidão do fosso do desrespeito, não respeito esperando respeito, se assim resultasse, meu respeito não seria respeitável, mas um respeito que pede troco, treinado para obséquios, sequioso de relevâncias e homenagens, sem espontaneidade. Por si só já é um desrespeito em gênero.”
Fiz muitos amigos no site, muitos tecem elogios que não mereço, cito alguns como Bernard Gontier, Lúcia Constantino, Lilian Reinhardt, Cláudio Broliani, Ana Bailune, todos com livros publicados em edições regulares, com filtros de qualidade, um dos livros com prefácio meu. Agradeço profundamente a todos, sempre fui respeitado e não vejo razão para fato diverso, respeito tudo e todos, mesmo qualquer crítica mais ácida, que não vi até hoje, mas responderia com neurônios ou meios adequados.
Por que escrevo isso? Por minha filha ter presenteado colega de trabalho com livro meu e ter me dito com surpresa: papai nem um feedback ele manifestou. Compreende-se, ninguém é obrigado a gostar de tudo, e nem sempre há condições de absorção. Mas educação é impositivo. A inveja, também, e desse passo mais importante, reincidentemente, passeia as vezes bem próxima, vizinha mesmo. Esse infortúnio do espírito me faz rezar pelos que sucumbem nesse baixíssimo traço de caráter, quando conheço o invejoso. São sempre os piores em vida vivida, ególatras e boçais. Infelizes em tudo e trazendo infelicidade para seus próximos.
Em contrapartida, de muitos, tenho elogios que não pretendi, e me surpreendem, mas alegram por nos sabermos úteis, e arquivo no repositório da computação e da alma, agradecido, como de Bernard Gontier ontem, entre tantos antecedentes que me honram, e professora universitária de São Paulo, isto em universo de incontáveis outros. Não me envaideço, somente vejo que cumpro minha missão, menos como julgador que fui, e mais como formador de opinião, com repercussão maior e mais pública que em julgados, embora estes apontem o que seria correto. Transcrevo os citados.
"Caro Celso,
Vivi uma vida inteira para poder encontrar alguém que traduzisse a mais perfeita união entre oratória e retórica. Músicos consagrados levaram-me às delícias de perceber, além das aparências, o âmago de todas as coisas. Fernando Pessoa, a cantar em poesia os mares de sua Terra. Gilberto Gil, a nos enfeitiçar com a sua música tão inteiramente brasileira. Taiguara, uruguaio de berço, não menos brasileiro, lembrando-nos do sol, astro absoluto, reinando nas noites mais escuras. Chico Buarque, traduzindo, com maestria, a dor e as delícias da condição feminina. E, entre tantos outros, Caetano, que presenteou os paulistas com o mais significativo de seus hinos baianos. Vivi muito e o suficiente para reconhecer em você um talento raro como cada um desses nossos grandes artistas. Raro e extremamente generoso em toda a sua dialética, em todo o seu conhecimento, que transcende em muito os saberes jurídicos. Tenho consciência que não sou a primeira e nem serei a última a saudar sua genialidade. Mas, atrevi-me a fazê-lo. Tempo precioso que ousei dedicar-lhe por total admiração, e certa de que o fazendo, saúdo um dos maiores MESTRES que minha terra viu nascer, sagrando-o por excelência, verdadeiro e genuíno cidadão brasileiro. "
Bernard Gontier
Prezado Celso, que dizer? Agradeço a chave de ouro deste domingo que se encerra com seu texto. Abre aspas: Quando pretendemos mergulhar no nosso interior buscamos a paz, ela só existe para e no silêncio. É como quando nos calamos e conseguimos penetrar em um outro mundo. A calma da eternidade. É o silêncio sereno e belo da natureza sempre em transformação que nos fala. Somos filhos da imensidão. Alguém foi crucificado para que se entenda a mensagem da paz. Fecha aspas. Nesse Domingo de Ramos, dia de encontro tb com jovens, filhos, filhos de amigos, amigos dos filhos, falou-se muito sobre a escassa excelência na arte de modo geral. Para minha sorte, tenho aqui a oportunidade de comentar diretamente a um dos maiores escritores deste país. A propósito, um escritor a serviço da Luz. Grato pela leitura de vulto. Fraterno abraço e boa noite.