Um cachecol na noite.

Como sempre consigo escrever nova crônica quando vou àquele agradável pub.

Ela entrou no bar! Aparentada ter de quarenta e cinco a cinquenta anos, e parecia estar triste, seu rosto assim denunciava. Andou em direção ao balcão. Perguntou ao gerente se podia tomar um refrigerante e fazer tricô. Ele segurou sua expressão facial, não respondeu nada, e num instante trouxe a bebida solicitada. A mulher se dirigiu a uma mesa e se senteou numa das quatro cadeiras. Portava a tira-colo uma grande bolsa e dela tirou um cachecol que passou a tricotá-lo. Após uns minutos de trabalho artesanal, ela deixou o
cachecol azul-violeta e o refrigerante sobre a mesa, e com sua bolsa foi ao banheiro.

Quase meia hora se passou e ela não voltava. Minha cerveja já estava fazendo efeito. A porta da toalete não se abria e eu não aguentava mais. Fui até lá e dei leve batida na porta. Após uns minutos ela apareceu toda radiante, com outro penteado, bem pintada, batom vermelho nos lábios e me disse: Desculpe pela demora, eu estava retocando minha maquiagem.


Sem palavra, entrei apressada, mas logo saí do tão almejado banheiro. Notei que a nova mulher estava no balcão acertando sua conta. Ela se foi e levou seu tricô, claro. Após no máximo vinte minutos, ela voltou acompanhada de um senhor. Este foi ao balcão apanhar uma cerveja e dois copos. A mulher se dirigiu à mesma mesa e se sentou, seguida por seu acompanhante. Ela tirou o cachecol azul-violeta da bolsa, e voltou a tricotar aquele que ele mesmo nunca iria usar. Eles pouco conversaram, apenas trocaram uns olhares e acabaram bebendo mais uma cerveja. Daí, foram embora.

Eu, lá na minha banqueta, fiquei calculando, enquanto bebia as geladas, quantos pontos de tricô ela poderia ter feito no
cachecol azul-violeta.
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 10/04/2017
Reeditado em 10/04/2017
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