"Para onde vai o vento?"

A vida é engraçada. Estou com quarenta anos e três meses de idade. Quando comecei a escrever (1990) para mim mesmo (meio diário, meio nada a ver), jamais pensava que iria lançar livros. Por anos a fio escrevia para mim mesmo. Pelo prazer de escrever. Pela necessidade. Após ter lançado, você começa a se cobrar sobre o porquê de não vender tanto. Não vender como gostaria. Quando não se escreve para vender, não sofre por isso. É complicado -- e como é! A três anos de completar três décadas de autor de diversos textos, sinto-me num canto à parte. Dando a mão àquele garoto de escola que NÃO se juntava com ninguém. Que era solitário. "Meu amigo", digo a ele, "nós estamos juntos nessa". Ele me olha com um olhar triste e balança sua cabeça em acordo. O amanhã é um dia que se aproxima.

tempo passa para todos -- não? É... E não (nos) dá tempo, muitas vezes, de nós nos despedirmos. É um amigo aqui que se vai, ali um parente que nos deixa para sempre... Desencontros -- SEM despedidas. Sem tempo para dizer "Tchau!", "Até breve!", "Adeus!", "Valeu ter te conhecido" etc. (Deus... A vida é uma fração de segundo -- vendo o conceito de vida na Terra sub specie aeternitatis).

A casa está vazia. A tarde, calma. Os fantasmas devem descansar durante o dia. Ou fazem greve. Camila NÃO voltou mais. Diabos... Deve ter ficado lá pelo #No1643. É o que eu sei dizer.

Uma balança (de playground, manjas?) vai e volta com o vento. Há dor e desolação nalguns pontos próximos a mim. São vidas que estão a partir. Dor. E NÃO há nada que eu possa fazer.

(Neide Duarte, eu te imagino lendo essa crônica).

Estou num palco de teatro antigo. Mais de meio século d'existência. 1940, sei lá. Haverá, quiçá, uma performance de despedida? E se o autor frustrado não vier? Carlos Marques: duble o Homem Aranha para mim agora. Uns dois minutos. Vamos? Você pode. Eu sei.

O Velho e Brilhante Sol se vai. E com ele, o vento. E para onde vai?

Eu não parei ainda. Tenho algo a mais a dizer. "Wellington?" "Sim?" Viro-me. A pessoa se foi. Não irei vê-la... nunca mais.