Quem gosta do paraíso não trepa em macieiras
Entre o instinto e os sentimentos há um abismo de sofrimento e lamentações. O homem sofre por querer o plural à mulher padece por ser singular. No jogo dos desejos a aposta é sempre alta e o risco eminente. Ninguém quer magoar, ferir os sentimentos, sobretudo de quem se ama, mas o diabo é uma serpente ardilosa e a mação parece tão suculenta quanto venenosa. E quando se percebe adeus paraíso. Difícil consertar o que se quebra, e quando quebra, parece perder o valor. Qual a justificativa para a traição? Judas segue sendo malhado até hoje, nunca trinta moedas de prata custaram tão caro com juros que vencem os séculos.
O sofrimento de quem foi traído se estende a nós e sua angústia sufoca o nosso coração. Nesta hora o arrependimento é tudo o que nos resta e a solidão nos dá a dimensão do tamanho de nossa miséria. Não há punição mais severa que a própria consciência de quem errou. E nesse momento tudo o que se deseja é voltar atrás, apagar o passado, recomeçar. Mas como?
Viver é sofrer já dizia Shopenhauer, e a felicidade está limitada as ilusões. “Felizes para sempre” não passa de um bordão que só não se desgasta devido à esperança que se renova como o amanhecer de cada dia. Já a realidade, bom, a realidade a gente sabe como é. A tragédia é o que melhor nos define, e no final é sempre ela que encerra nosso deprimente espetáculo diante da vida. Uma vida de máscaras, encenações e farsas que se desencadeiam numa representação deprimente, patética e sem sentido.
Haverá salvação se houver amor? Sempre há. O amor parece uma Fênix a ressurgir das cinzas, do caos, da perdição. Seu poder de regeneração não tem limites, não se condiciona a nada e cura todas as feridas, estanca o pranto, restituindo a paz, a harmonia e a felicidade. O amor sempre foi e haverá de ser o fio de esperança de toda a humanidade. O mais são paixões, vícios e a nossa vil vaidade. Quem gosta do paraíso não trepa em macieiras.