Pequena retrospectiva do ano de 1917

 
     A partir de informações disponibilizadas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, selecionamos alguns eventos ocorridos há um século, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, propondo uma pequena retrospectiva pontual ao distante ano de 1917. São episódios esparsos, que exigem a articulação com vários outros, para que se possa sustentar fatos históricos, pois não se faz história apenas como uma cena isolada ou momento único.

Folguedos do Carnaval

     No dia 18 de fevereiro de 1917, foi publicado no “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, que prosseguia com a mais viva animação os folguedos carnavalescos na cidade mineira de São Sebastião do Paraíso. Um grupo de moços da cidade estava se esforçando para que o Carnaval daquele ano fosse o mais brilhante possível, organizando animadas soirées dançantes. O coronel José Francisco de Paula que exercia o cargo de Agente Executivo (prefeito) estava dando todo o apoio possível para alegrar a vida dos moradores da cidade. No mesmo contexto, foi anunciada a construção do prédio municipal, parte térrea, para abrigar as aulas do Ginásio Paraisense, quando estava funcionando o primeiro Curso Normal da cidade. Empresários do munícipio enviaram à Câmara Municipal solicitação de abertura de concorrência pública para construção de uma estrada de automóveis entre São Sebastião do Paraíso e São Tomaz de Aquino.

Associação Atlética Paraisense

      No mesmo periódico carioca, acima mencionada, e na mesma edição, ficou registrado que, na cidade mineira de São Sebastião do Paraíso, acabava de ser fundada uma associação esportiva de futebol, denominada “Associação Atlética Paraisense”, composta por pessoas representativas da sociedade local. A primeira equipe de futebol organizada estava se tornando imbatível, em animadas partidas realizadas nas tardes de domingos, com outras equipes das fazendas e cidades vizinhas. A mesma fonte publicou que a primeira diretoria da Associação ficou assim constituída: Presidente: Dr. Gustavo Lessa; Vice-Presidente, capitão Emílio Carnevale; 1º Secretário, Odilon Xavier; 2º Secretário, Anibal Versani e Tesoureiro, José Dias Ferraz. Havia um clima de entusiasmo, pois 150 sócios já estavam contribuindo para compor a nova sociedade esportiva.

Inspeção Escolar

        No dia 27 de junho de 1917, foi divulgado num dos principais órgãos da imprensa da capital paulista que o farmacêutico Raimundo Calafiori, ilustre professor de Ciências Físicas e Naturais do Ginásio Paraisense, reconhecido como portador de uma didática diferenciada devido à clareza e organização de suas aulas, foi nomeado suplente de inspetor escolar do município de São Sebastião do Paraíso, conforme consta no Correio Paulistano, de São Paulo. Na época, o cargo de inspetor escolar consistia em visitar, regularmente, as escolas públicas e particulares para verificar o andamento da aprendizagem dos alunos e o trabalho realizado pelo mestre responsável. O referido mestre Raimundo Calafiori, membro de uma tradicional Família da sociedade paraisense, e o dentista Lamartine Amaral, filho do deputado José Luiz Campos do Amaral Junior, iniciaram a organização e assumiram a direção da Escola de Farmácia e Odontologia de São Sebastião do Paraíso, primeiros cursos superiores da cidade, criada em 1929, que funcionou por quase uma década e chegou a formar alguns farmacêuticos.

Ensino religioso nas escolas

        Com base em notícia veiculada no jornal “A União”, do Rio de Janeiro, em 11 de março de 1917, a Secretaria do Interior do Estado de Minas Gerais, em resposta a um requerimento formalizado pelo padre Brito Franco, de Guaxupé, e cônego José Philippe da Silveira, de São Sebastião do Paraíso, solicitando licença para o ensino do catecismo nas escolas públicas, respondeu com o seguinte ofício: “Secretaria do Interior. Belo Horizonte, 30 de janeiro de 1917. Reverendíssimo padre Brito Franco e cônego José Philippe da Silveira - Em relação ao vosso ofício de 21 de dezembro último, em que solicitais autorização aos diretores dos grupos escolares dessa cidade de São Sebastião do Paraíso e da vizinha cidade de Guaxupé, no sentido de acordarem sobre o meio de se estabelecer nos referidos estabelecimentos o ensino do catecismo católico, sem prejuízo dos trabalhos escolares previstos nos programas oficiais, devo ponderar-vos que a administração do Estado tem deixado de resolver pedidos idênticos, por estar o assunto pendente de deliberação do Poder Legislativo, em virtude do projeto número 135, de 1913, submetido à consideração da comissão de instrução pública. Assim, pois, o Governo aguarda as providências legislativas para solucionar não só o vosso pedido, como também de outros sobre o mesmo assunto. Saúde e fraternidade. Secretário do Interior. Américo Lopes.
               
A todos os protagonistas das histórias narradas nesta crônica, nossas reverências e agradecimentos memoriais pelas condições legadas para as gerações posteriores da querida terra natal de ontem e dos dias de hoje.