UM PATO NA TARDE QUIETA
(Diário de minhas andanças - Agosto/2011)
fotos do autor
localidade:Riozinho de Baixo - Rebouças (PR)
Nestas minhas andanças tenho captado imagens que por vezes me surpreendem.
(A foto ilustrativa revela um destes flagrantes )
Escolhemos,meu filho e eu,alguns CDs de nossa predileção,”atuchamos” à todo volume e pegamos a estrada.
Êle na boléia .Eu, pronto a fotografar o que surgisse à minha frente.
Na quietude do domingo,cenários deslumbrantes foram-se descortinando num vale próximo à uma cidade vizinha.
Sem muros ou cercas,pequenas propriedades rurais,pincelando cores na imensidão verde dos campos.Um toque bucólico por conta dos galpões,dos estábulos,estufas e moinhos coloniais acabrunhados por entre as araucárias.
Chimarrão pelas varandas e,vestidas de noivas,pereiras ostentando pelos quintais a alvura das primeiras floradas.
A pachorra da tarde, quebrada tão somente pelo alarido dos quero-queros e ,de quando em quando,o tom mais grave na voz de um leiteiro e outro arrebanhando o gado para a ordenha do final do dia.
De resto ,tudo resumindo-se no sorver da doce pureza emanada do vale.
Ziguezagueamos pela sinuosa estradinha,estacionando nas imediações de uma pequena casa branca.
Na singeleza verde da janela,uma senhora entregue aos melindres daquele paraíso perdido.
Os cabelos grisalhos denunciavam-lhe os anos vividos.Carregava uma serenidade no olhar e indecifrável doçura nas palavras.
Tereza era o seu nome.
Hospítaleira,convidou-nos a entrar,serviu-nos café com broa de centeio e manteiga,de seu feitio.
Concedeu-nos permissão para que fotografássemos a sua propriedade.
Achou graça do interesse demonstrado por coisas “tão simples”,segundo as suas palavras.
Deixamos para trás aquela criatura de fala mansa,de paz nos olhos e fomos aos poucos cerzindo a coxilha ponteada de pequenas aves e animais.
A natureza ,esbaldando-se ao redor das moradias,borrava de branco os quintais.E como na canção de Elis,carneiros e cabras pastavam solenes na coxilha rasgada às trilhas de suas próprias patas.
No meio do caminho, um lago!
Ao fundo as margaridas do charco já mostrando-se às milhares.Eucaliptos,araucárias...uma pequena elevação entre uma poça e outra e,encimando-se:Um pato!
Introspectivo,parecia buscar na beleza da paisagem respostas aos seus emplumados devaneios.
A imagem não poderia ser mais bela..Não resistindo, abri o diálogo:
_Eita vida boa!...Esta vida de pato,não é mesmo?
Dona Tereza,que parecia nos seguir pelo retrovisor,certamente daria ,ao seu jeito,uma abalisada opinião.
Meu filho ,no melhor estilo “filosofia de bodega”,lançou então a pérola:
_Éh!...Mas nem tudo são apenas flores na vida de um pato.
A filosófica colocação provocou-nos um riso. No caminho de volta,dezenas de fotos na memória de minha câmera.
“The Marmelade”,no som dos anos 70 faláva-nos de “Reflection of my life” e ao embalo sonoro daquela melodia que tanto gosto,feliz eu ruminava pensamentos ao longo da rodovia.
Seguia-me a imagem do pato na tarde quieta e eu refletia sobre a beleza do simples que de tudo emana.E das muitas vezes em que nos fazem de patos nesta vida e aí...Percebemos , segundo a citação de meu filho, que...
“Nem tudo são apenas flores na vida de um pato".
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado
Preservados os comentários ao texto anterior:
Comentários
21/10/2015 23:59 - Lilian Reinhardt
...que colheita mais linda, pura poesia, uma viagem de sons, um relato que tem o condão de nos fazer vibrar as emoções, é a sua voz poética, poeta, ímpar, um discipulado de sua palavra, belo, muito belo, parabéns!!!!
17/09/2011 23:03 - tania orsi vargas
Ler esta tua crônica é passar a alma a limpo, isto é uma expressão nada original, mas é exatamente o que sinto porque este oxigênio que se respira lendo você é alimento e recompõe e restaura, e cura mesmo.
11/09/2011 12:33 - Ciro [não autenticado]
olá Joel. Linda foto! Quanto ao texto, não são necessárias as palavras. Parabéns!
09/09/2011 00:06 - Malgaxe
Pois é até esta vida bucolica transformou-se, e hoje além de verem tudo transformar-se ao seu redor, estas pessoas ainda somaram ao seu vocabulári a palavra necessidade, porque lá como cá, o mundo mudou e se aqui na cidade o que se reclama é segurança, saude e educação, lá é a modernização do dominio territorial nas mãos de poucos o que fustiga a esperança, o que antes era faxinal, terra de todos, brilhantes cercas de arame reclusam as pessoas a pedaços inserviveis de terra, animais confinados, e doenças quem há muitos anos eram raridades hoje os tornam escravos do que tinham orgulho de não dependerem, a cidade.Fazer o que, a vida é assim, infelizmente. abraços
07/09/2011 14:27 - Nete Brito
viajei contigo... são cenas que me fazem bem...eu adoro as coisa simples da vida. Crônica espetacular.Prazer em conhecer-te.
03/09/2011 01:37 - Giustina
Maravilha de crônica, Joel! Que cena bucólica! E o pato ficou lindo na foto... rsrs!
01/09/2011 22:49 - veralis
Nossa que viagem! Caminhei, caminhei até onde a grama é tão verde que deitei a observar a paisagem a minha volta. Obrigada! A viagem foi bela...
01/09/2011 18:46 - Anita D Cambuim
Patati patacolá...rs. E encontrar beleza no singelo, é maravilhoso, Joel. Parabéns!
01/09/2011 12:03 -
Tua crônica é de uma beleza imensa... eu e meu marido também gostamos de sair por aí nos finais de semana, sem destino, fotografando...
31/08/2011 22:36 - Juli Ribeiro
Belíssima crônica e linda foto! Um abraço
.
31/08/2011 17:39 - Maria Mineira
Gostei da crônica e da foto. As coisas mais bonitas estão na simplicidade né?
31/08/2011 09:13 - luciana vettorazzo cappelli
Joel, não há maneira melhor de passar o domingo e, porque não dizer a vida, do que saindo da cidade e ir para os arredores. É ali que acontece a verdadeira vida, onde vemos os patos na sua imponencia, a natureza que não tem maldade. Você com esse texto consegue passar todas as sensações que teve. Parabéns. É como se tivessemos ido lá também.
31/08/2011 08:53 - YARA FRANÇA
Amigo, cada vez q trazes essas mensagens e fotos, faz-nos evocar essa vida tão distante pra maioria de nós. eu, particularmente ando sonhando com uma qualidade de vida assim. aliás o primeiro escrito meu q comentaste foi o da casinha branca. tenho pensado muito nisso. e esse txt como muitos outros, faz-me querer ver esses lugares.
30/08/2011 21:28 - RobertoRego
Joel, tou aqui de novo pra curtir, se me permite, com você, seu filho e a velhinha esse pato! Maravilha, Joel. "Pato" é quem não sabe apreciar a beleza magistral dum cenário desses, delicadamente narrada no seu texto brilhante, amigo poeta. E a velhinha achou graça no seu interesse nas "coisas tão simples", talvez se esquecendo que aí residem as belas facetas da vida! Aplausos ao pai e ao filho, pelo presente que dão aos seus leitores, abraços cordiais, paz e alegria (ah, Joel, acabo de ver no "JN" o gelo castigando a sua Irati. Eu, magrelo que sou, só de ver me doem os ossos). Boa noite, meu dileto amigo.
30/08/2011 21:27 - Teca
Tocante,bela,assim sua crônica! bjus
30/08/2011 19:59 - Lenapena
Bom vou me repetir, vir aqui, é certeza de emoções sentir. Você sempre me faz reviver os lugares de minha infância, com a preciosidade de seus belos textos. E ando percebendo que temos gosto musical semelhante, Sem falar nas araucárias, ah, como amo essas árvores. Um abraço e obrigado, por compartilhar esse lindo passeio.
30/08/2011 18:28 - Machadinho
Sua crônica descreve que a nossa felicidade só depende de nós, basta que olhemos ao nosso redor, à procura de coisas simples que muitas vezes não enxergamos, mas que estão ali para mostrar a beleza que vem da natureza e das mãos de Deus.
(Diário de minhas andanças - Agosto/2011)
fotos do autor
localidade:Riozinho de Baixo - Rebouças (PR)
Nestas minhas andanças tenho captado imagens que por vezes me surpreendem.
(A foto ilustrativa revela um destes flagrantes )
Escolhemos,meu filho e eu,alguns CDs de nossa predileção,”atuchamos” à todo volume e pegamos a estrada.
Êle na boléia .Eu, pronto a fotografar o que surgisse à minha frente.
Na quietude do domingo,cenários deslumbrantes foram-se descortinando num vale próximo à uma cidade vizinha.
Sem muros ou cercas,pequenas propriedades rurais,pincelando cores na imensidão verde dos campos.Um toque bucólico por conta dos galpões,dos estábulos,estufas e moinhos coloniais acabrunhados por entre as araucárias.
Chimarrão pelas varandas e,vestidas de noivas,pereiras ostentando pelos quintais a alvura das primeiras floradas.
A pachorra da tarde, quebrada tão somente pelo alarido dos quero-queros e ,de quando em quando,o tom mais grave na voz de um leiteiro e outro arrebanhando o gado para a ordenha do final do dia.
De resto ,tudo resumindo-se no sorver da doce pureza emanada do vale.
Ziguezagueamos pela sinuosa estradinha,estacionando nas imediações de uma pequena casa branca.
Na singeleza verde da janela,uma senhora entregue aos melindres daquele paraíso perdido.
Os cabelos grisalhos denunciavam-lhe os anos vividos.Carregava uma serenidade no olhar e indecifrável doçura nas palavras.
Tereza era o seu nome.
Hospítaleira,convidou-nos a entrar,serviu-nos café com broa de centeio e manteiga,de seu feitio.
Concedeu-nos permissão para que fotografássemos a sua propriedade.
Achou graça do interesse demonstrado por coisas “tão simples”,segundo as suas palavras.
Deixamos para trás aquela criatura de fala mansa,de paz nos olhos e fomos aos poucos cerzindo a coxilha ponteada de pequenas aves e animais.
A natureza ,esbaldando-se ao redor das moradias,borrava de branco os quintais.E como na canção de Elis,carneiros e cabras pastavam solenes na coxilha rasgada às trilhas de suas próprias patas.
No meio do caminho, um lago!
Ao fundo as margaridas do charco já mostrando-se às milhares.Eucaliptos,araucárias...uma pequena elevação entre uma poça e outra e,encimando-se:Um pato!
Introspectivo,parecia buscar na beleza da paisagem respostas aos seus emplumados devaneios.
A imagem não poderia ser mais bela..Não resistindo, abri o diálogo:
_Eita vida boa!...Esta vida de pato,não é mesmo?
Dona Tereza,que parecia nos seguir pelo retrovisor,certamente daria ,ao seu jeito,uma abalisada opinião.
Meu filho ,no melhor estilo “filosofia de bodega”,lançou então a pérola:
_Éh!...Mas nem tudo são apenas flores na vida de um pato.
A filosófica colocação provocou-nos um riso. No caminho de volta,dezenas de fotos na memória de minha câmera.
“The Marmelade”,no som dos anos 70 faláva-nos de “Reflection of my life” e ao embalo sonoro daquela melodia que tanto gosto,feliz eu ruminava pensamentos ao longo da rodovia.
Seguia-me a imagem do pato na tarde quieta e eu refletia sobre a beleza do simples que de tudo emana.E das muitas vezes em que nos fazem de patos nesta vida e aí...Percebemos , segundo a citação de meu filho, que...
“Nem tudo são apenas flores na vida de um pato".
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado
Preservados os comentários ao texto anterior:
Comentários
21/10/2015 23:59 - Lilian Reinhardt
...que colheita mais linda, pura poesia, uma viagem de sons, um relato que tem o condão de nos fazer vibrar as emoções, é a sua voz poética, poeta, ímpar, um discipulado de sua palavra, belo, muito belo, parabéns!!!!
17/09/2011 23:03 - tania orsi vargas
Ler esta tua crônica é passar a alma a limpo, isto é uma expressão nada original, mas é exatamente o que sinto porque este oxigênio que se respira lendo você é alimento e recompõe e restaura, e cura mesmo.
11/09/2011 12:33 - Ciro [não autenticado]
olá Joel. Linda foto! Quanto ao texto, não são necessárias as palavras. Parabéns!
09/09/2011 00:06 - Malgaxe
Pois é até esta vida bucolica transformou-se, e hoje além de verem tudo transformar-se ao seu redor, estas pessoas ainda somaram ao seu vocabulári a palavra necessidade, porque lá como cá, o mundo mudou e se aqui na cidade o que se reclama é segurança, saude e educação, lá é a modernização do dominio territorial nas mãos de poucos o que fustiga a esperança, o que antes era faxinal, terra de todos, brilhantes cercas de arame reclusam as pessoas a pedaços inserviveis de terra, animais confinados, e doenças quem há muitos anos eram raridades hoje os tornam escravos do que tinham orgulho de não dependerem, a cidade.Fazer o que, a vida é assim, infelizmente. abraços
07/09/2011 14:27 - Nete Brito
viajei contigo... são cenas que me fazem bem...eu adoro as coisa simples da vida. Crônica espetacular.Prazer em conhecer-te.
03/09/2011 01:37 - Giustina
Maravilha de crônica, Joel! Que cena bucólica! E o pato ficou lindo na foto... rsrs!
01/09/2011 22:49 - veralis
Nossa que viagem! Caminhei, caminhei até onde a grama é tão verde que deitei a observar a paisagem a minha volta. Obrigada! A viagem foi bela...
01/09/2011 18:46 - Anita D Cambuim
Patati patacolá...rs. E encontrar beleza no singelo, é maravilhoso, Joel. Parabéns!
01/09/2011 12:03 -
Tua crônica é de uma beleza imensa... eu e meu marido também gostamos de sair por aí nos finais de semana, sem destino, fotografando...
31/08/2011 22:36 - Juli Ribeiro
Belíssima crônica e linda foto! Um abraço
.
31/08/2011 17:39 - Maria Mineira
Gostei da crônica e da foto. As coisas mais bonitas estão na simplicidade né?
31/08/2011 09:13 - luciana vettorazzo cappelli
Joel, não há maneira melhor de passar o domingo e, porque não dizer a vida, do que saindo da cidade e ir para os arredores. É ali que acontece a verdadeira vida, onde vemos os patos na sua imponencia, a natureza que não tem maldade. Você com esse texto consegue passar todas as sensações que teve. Parabéns. É como se tivessemos ido lá também.
31/08/2011 08:53 - YARA FRANÇA
Amigo, cada vez q trazes essas mensagens e fotos, faz-nos evocar essa vida tão distante pra maioria de nós. eu, particularmente ando sonhando com uma qualidade de vida assim. aliás o primeiro escrito meu q comentaste foi o da casinha branca. tenho pensado muito nisso. e esse txt como muitos outros, faz-me querer ver esses lugares.
30/08/2011 21:28 - RobertoRego
Joel, tou aqui de novo pra curtir, se me permite, com você, seu filho e a velhinha esse pato! Maravilha, Joel. "Pato" é quem não sabe apreciar a beleza magistral dum cenário desses, delicadamente narrada no seu texto brilhante, amigo poeta. E a velhinha achou graça no seu interesse nas "coisas tão simples", talvez se esquecendo que aí residem as belas facetas da vida! Aplausos ao pai e ao filho, pelo presente que dão aos seus leitores, abraços cordiais, paz e alegria (ah, Joel, acabo de ver no "JN" o gelo castigando a sua Irati. Eu, magrelo que sou, só de ver me doem os ossos). Boa noite, meu dileto amigo.
30/08/2011 21:27 - Teca
Tocante,bela,assim sua crônica! bjus
30/08/2011 19:59 - Lenapena
Bom vou me repetir, vir aqui, é certeza de emoções sentir. Você sempre me faz reviver os lugares de minha infância, com a preciosidade de seus belos textos. E ando percebendo que temos gosto musical semelhante, Sem falar nas araucárias, ah, como amo essas árvores. Um abraço e obrigado, por compartilhar esse lindo passeio.
30/08/2011 18:28 - Machadinho
Sua crônica descreve que a nossa felicidade só depende de nós, basta que olhemos ao nosso redor, à procura de coisas simples que muitas vezes não enxergamos, mas que estão ali para mostrar a beleza que vem da natureza e das mãos de Deus.