NO COLETIVO
São cinco e meia da manhã. O relógio desperta o cidadão para mais um dia de luta. Ele se arruma as pressas, engole um café com pão e segue para ponto de ônibus após andar num lamaceiro existente por causa de uma chuva de outono.
Fica a esperar o primeiro coletivo em sua localidade por cerca de uma hora. Ele chega, sobe e vai ao seu primeiro destino, que é o centro nervoso da cidade, para pegar outro e seguir viagem por mais de uma hora à outra cidade.
Na viagem, ônibus lotado...Afinal é intermunicipal. Passagem o olho da cara, e dentro do coletivo uma palestra de um ambulante revoltado com a burguesia que manda no país...
Ele diz: - São vocês trabalhadores que movem o país, os pobres e não os ricos...São vocês que sofrem com os impostos e não os ricos. São vocês que comem leite adulterado, carne estragada e com papel, café com gosto de barata, para os outros comerem bem...
Depois da palestra, uns de olhos arregalados, outros fingem escutar, outros dormindo, o ambulante divulga o seu produto.
- Senhores e senhoras, mil desculpas pelo meu desabafo, não faço parte de nenhuma entidade ou ONG, meu trabalho é honesto e uso o coletivo para ganhar o meu pão. Estou aqui para lhe apresentar este livro mágico...Um livro mais barato do que esta passagem. Um livro que meche com a coordenação motora, principalmente das crianças. São dois reais um, e três por cinco reais...Mais barato do que esta passagem monopolista da Região dos Lagos. Afinal, vocês votam e colocam no poder esta burguesia para ser simplesmente escravos, independente de cor ou religião. Abençoados...Tenham um bom dia e muito obrigado. Motorista pode me deixar no próximo pronto e muito obrigado a aquele que tenha me ajudado comprando minha mercadoria. Afinal os chineses vendem barato por não terem olho grande, já os empresários daqui o contrário.
O cidadão comprou o livro mágico e ficou contando os minutos para o fim da viagem no coletivo que mais parece uma lata de sardinha indo para cozinha da burguesia.
Chegado o destino...É hora de caminhar mais uns minutos e lecionar sonhando que um dia os jovens do futuro possam transformar a sociedade.
No quadro o cidadão professor escreve uma mensagem de Simone de Beauvoir: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”
Depois segue o dia...
Rodrigo Octavio Pereira de Andrade (Rodrigo Poeta)
Poeta, professor, acadêmico, palestrante, pesquisador e escritor cabo-friense