BEIÇUDO!
Com a cara besuntada de espuma de barbear,olho-me no espelho e o relógio do tempo gira frenético no sentido contrário me arremessando numa época muito distante.
Fazia frio.
Devia ser maio ou junho,talvez. Não geara naquela manhã e uma neblina densa à tudo envolvia.Vó Maria convocara a netarada e,em sua companhia,já havíamos nos embrenhado na mata em busca de “grimpas” para cobrir canteiros de alface no quintal.
“Grimpas”,à quem desconhece,são folhas de araucárias muito espinhosas e,por esta razão,é necessário cata-las ainda orvalhadas, caso contrário , é quase impossível carregá-las.
A compensação à àquele nosso “esforço concentrado” seria a sapecada de pinhões que faríamos na mata antes do regresso.
Como de costume,tudo foi muito animado.O fogo,a sapecada,os pinhões assados aquecendo as mãos...
De posse de um machadinho de carpinteiro,e sem noção de estar cometendo um crime ambiental, fui entalhando no tronco de um pinheiro o desenho de uma figura humana.
Cuidadosamente recortei os olhos, as sobrancelhas, o nariz e fui generoso ao fazer os contornos da boca .
Tudo pronto,apresentei minha obra de arte à posteridade provocando risos,elogios e até alguns comentários desabonadores.
Vó Maria, à tudo observava calada.Insisti em conhecer sua opinião sobre o trabalho.
Com aquêle seu jeitão matuto,curta , grossa e objetiva,foi
me dizendo:
_Interessante! E...”beiçudo feito você”.
É claro que a galera caiu na risada e eu,nem preciso dizer onde caí.
Meio sem chão,argumentei:
_Beiçudo,eu?...Vó!
Tendo se dado conta do estrago que havia praticado,a bondosa (?) senhora abraçou-me e afagando –me a cabeça,acrescentou:
_Beiçuuuudo,beiçuuuudo...Não.És só um “beiçudinho”...E o preferido da vovó.
Lisongeado,sorri junto aos demais que também acharam aquilo engraçado.
Agora ,diante do espelho, observando com cuidado a abundância de carne estocada um pouco abaixo de meu nariz,lembro-me da figura esculpida naquele pinheiro , que nem mais existe ,e rendo-me à constatação de dona Maria:
_Que beiço!
Pena ela não mais esteja por aqui para consolar-me aduladamente :
_Continuas sendo o " beiçudinho" preferido da vovó!
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.
Preservados os comentários no texto anterior:
27/05/2011 20:44 - Sunny L (Sonia Sancio Landrith)
De uma maneira carinhosa, vovó fez-lhe um carinho. Bom de ler, bom de sentir. És belo! Boa noite!
26/05/2011 19:43 - RobertoRego
Joel, sua Vó Maria usou de linguagem afetiva para com o seu neto preferido. Beiçudo? Nem tanto, prezado! Acho que ganho de você disparado (rsrsrs). Aplausos, abraço fraterno, paz e alegria, poeta! ...
23/05/2011 21:00 - Giustina
Heheheh! Vó tem dessas coisas! Depois que diz, tenta consertar!
22/05/2011 20:37 - Anita D Cambuim
kkk quem nos ama diz coisas de maneira tão graciosa que vira carinho. Boa semana!
22/05/2011 15:09 - Lisyt
Suas lembranças e seu talento para contá-las são, sempre, uma delícia. Saiba que, atualmente, beiçudo faz sucesso... rs Sua avó já previa isso. Abraço e uma ótima semana.
20/05/2011 23:28 - Ana Flor do Lácio
Parabéns, Iratiense, pela excelente e bem conduzida crônica. Vovós sempre têm razão. É bom rir um pouco, descontarir depois de um longo dia de trabalho. Linda noite.
20/05/2011 21:25 - Lilian Reinhardt
Impossível não rir (rs)...poeta da minha terra, que beiço! (rs) Dá prá imaginar o beição de espuma! Mas, que lirismo maravilhoso, fazer essa analogia tão mágica com um acontecido de tanta ternura...parabéns sempre! abraço crantão! como dizia o pequeno Petrucho!
19/05/2011 23:29 -
Muito criativa, gostei. Demorou perceber, rs. Parabéns poeta, abçs.
19/05/2011 22:58 - Maria Olimpia Alves de Melo
Pela foto, nem parece...
19/05/2011 22:44 - Zé Áporo
Ótimo! :D
19/05/2011 00:55 - Tânia Alvariz
Exelente crônica. Abço.
Com a cara besuntada de espuma de barbear,olho-me no espelho e o relógio do tempo gira frenético no sentido contrário me arremessando numa época muito distante.
Fazia frio.
Devia ser maio ou junho,talvez. Não geara naquela manhã e uma neblina densa à tudo envolvia.Vó Maria convocara a netarada e,em sua companhia,já havíamos nos embrenhado na mata em busca de “grimpas” para cobrir canteiros de alface no quintal.
“Grimpas”,à quem desconhece,são folhas de araucárias muito espinhosas e,por esta razão,é necessário cata-las ainda orvalhadas, caso contrário , é quase impossível carregá-las.
A compensação à àquele nosso “esforço concentrado” seria a sapecada de pinhões que faríamos na mata antes do regresso.
Como de costume,tudo foi muito animado.O fogo,a sapecada,os pinhões assados aquecendo as mãos...
De posse de um machadinho de carpinteiro,e sem noção de estar cometendo um crime ambiental, fui entalhando no tronco de um pinheiro o desenho de uma figura humana.
Cuidadosamente recortei os olhos, as sobrancelhas, o nariz e fui generoso ao fazer os contornos da boca .
Tudo pronto,apresentei minha obra de arte à posteridade provocando risos,elogios e até alguns comentários desabonadores.
Vó Maria, à tudo observava calada.Insisti em conhecer sua opinião sobre o trabalho.
Com aquêle seu jeitão matuto,curta , grossa e objetiva,foi
me dizendo:
_Interessante! E...”beiçudo feito você”.
É claro que a galera caiu na risada e eu,nem preciso dizer onde caí.
Meio sem chão,argumentei:
_Beiçudo,eu?...Vó!
Tendo se dado conta do estrago que havia praticado,a bondosa (?) senhora abraçou-me e afagando –me a cabeça,acrescentou:
_Beiçuuuudo,beiçuuuudo...Não.És só um “beiçudinho”...E o preferido da vovó.
Lisongeado,sorri junto aos demais que também acharam aquilo engraçado.
Agora ,diante do espelho, observando com cuidado a abundância de carne estocada um pouco abaixo de meu nariz,lembro-me da figura esculpida naquele pinheiro , que nem mais existe ,e rendo-me à constatação de dona Maria:
_Que beiço!
Pena ela não mais esteja por aqui para consolar-me aduladamente :
_Continuas sendo o " beiçudinho" preferido da vovó!
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.
Preservados os comentários no texto anterior:
27/05/2011 20:44 - Sunny L (Sonia Sancio Landrith)
De uma maneira carinhosa, vovó fez-lhe um carinho. Bom de ler, bom de sentir. És belo! Boa noite!
26/05/2011 19:43 - RobertoRego
Joel, sua Vó Maria usou de linguagem afetiva para com o seu neto preferido. Beiçudo? Nem tanto, prezado! Acho que ganho de você disparado (rsrsrs). Aplausos, abraço fraterno, paz e alegria, poeta! ...
23/05/2011 21:00 - Giustina
Heheheh! Vó tem dessas coisas! Depois que diz, tenta consertar!
22/05/2011 20:37 - Anita D Cambuim
kkk quem nos ama diz coisas de maneira tão graciosa que vira carinho. Boa semana!
22/05/2011 15:09 - Lisyt
Suas lembranças e seu talento para contá-las são, sempre, uma delícia. Saiba que, atualmente, beiçudo faz sucesso... rs Sua avó já previa isso. Abraço e uma ótima semana.
20/05/2011 23:28 - Ana Flor do Lácio
Parabéns, Iratiense, pela excelente e bem conduzida crônica. Vovós sempre têm razão. É bom rir um pouco, descontarir depois de um longo dia de trabalho. Linda noite.
20/05/2011 21:25 - Lilian Reinhardt
Impossível não rir (rs)...poeta da minha terra, que beiço! (rs) Dá prá imaginar o beição de espuma! Mas, que lirismo maravilhoso, fazer essa analogia tão mágica com um acontecido de tanta ternura...parabéns sempre! abraço crantão! como dizia o pequeno Petrucho!
19/05/2011 23:29 -
Muito criativa, gostei. Demorou perceber, rs. Parabéns poeta, abçs.
19/05/2011 22:58 - Maria Olimpia Alves de Melo
Pela foto, nem parece...
19/05/2011 22:44 - Zé Áporo
Ótimo! :D
19/05/2011 00:55 - Tânia Alvariz
Exelente crônica. Abço.