Crônica crônica
O cronista se perguntou se o que ele escreveu é realmente uma crônica. Curiosamente obteve uma resposta, deve ter vindo do seu lado esquerdo do cérebro.
- Sua crônica é crônica.
- Tenho minhas dúvidas, não seria anacrônica? – Perguntou novamente a si mesmo.
Sem paciência consigo próprio não se deu ao trabalho de se responder.
O cronista escrevia semanalmente para diferentes veículos de comunicação. Ele tinha sua fórmula básica: uma pitada de ficção, uma pitada de realidade, senso de humor inteligente e uma crítica a sociedade de forma disfarçada. A fórmula funcionava, pessoas elogiavam, ganhava bem por isso. Dava-se ao luxo de declarar no imposto de renda que era cronista.
Certa feita o Censo lhe perguntou sua profissão:
- Cronista! – Disse de boca cheia.
- Aqueles que narram jogo de futebol?
- Não!
- Portador de alguma doença crônica?
- Que despautério! – Esbravejou!
- Pode ser que o senhor seja um doente crônico e receba algo do governo, essas aposentadorias por invalidez, essas coisas.- disse o moço do Censo.
- Não me diga que o senhor cogitou me chamar de inválido!? Eu devo estar ouvindo coisas. O senhor não me conhece?
- Nunca vi mais esquisito. Os cronistas são assim? O que eles fazem?
- Cronistas escrevem crônicas! – Falou quase silabicamente.
- ??? – O moço fez cara de interrogação.
- Só pode estar brincando! É uma pegadinha!
- Quem sabe isto não seja uma crônica?
O cronista parou estático. Refletiu, afinal cronistas refletem muito para escrever, fazem suas concatenações, elucubrações e gostam de gastar vocabulário. Outra vez se perguntou: será que faço parte de uma crônica? E se faço, será que foi bem ambientada, cronicamente bem redigida por um hipertenso crônico?!
Silêncio...
Obs.: crônica é crônica. Para quem é autor do Recanto na hora de escolher a opção para escrever um texto há esta opção de Crônica, mas não há subdivisão, diferente de poesias, contos, em que há opções dentro desta categoria. Enfim, crônica é crônica.
05/04/2017