Lapidar-se
Sou completamente a favor de sermos quem somos, goste o outro ou não. O problema não está no conceito, mas na forma como ele é praticado. Não há como empurrar uma declaração dessas quando a situação toda depende de uma compreensão que ultrapassa os direitos e deveres de quem a proclama, quando ela afeta o coletivo. Neste caso, a declaração soa estupidamente egoísta.
É como, por exemplo, quem bate no peito e diz “eu sou assim, se quiser me aceite desse jeito”. Desde sempre, o ser humano se vale de citações para falar sobre si mesmo, sejam elas oriundas dos livros de autores consagrados ou das letras de música sertaneja. Declarações como essas acima soam como certificado de incapacidade de escutar o outro, de conhecer um ponto de vista diferente, de se enveredar pela possibilidade de não estar assim tão certo, definitivo, de precisar aprender um pouco mais sobre si.
E no final, dá sempre em uma solidão para se amargar. Eu sou assim, você é assado, e não há problema algum nisso, ao contrário, há a pluralidade necessária para tecermos a vida com certa cadência. Não defendo a aniquilação do direito de ser, mas o sermos sem nos privarmos do aprendizado que o diariamente nos oferece, tampouco da possibilidade de melhorarmos quem somos.
E assim, ao nos transformamos com o tempo, não há um “eu sou assim” que não sofra a influência das experiências, que não cresça, evolua e aprenda. Porque até que é bom ser assim e reticências, e vírgula, e dois pontos, e isso vem com um bônus de interrogações, pontos de exclamação, enfim, surpresas. Não insista em colocar ponto final na sua capacidade de se transformar. É o tal “vivendo e aprendendo”.