Ontem, eu era feliz e não sabia
Ontem, por não ter aula como habitual, parece que por conta de um feriado qualquer, acordei cedo e fui para as ruas para me encontrar com os tantos amigos que lá já estariam. E lá estavam Nilo, Sérgio, Turene, Nando, Rogério, Cláudio, Roberto do Bepe, Carlinhos, Nen, Zé Luiz, Adilson, Zeca, Carlos Magno, Teófilo, Toninho, Maneca, Orlando, Gustavo, Biel, Quico, Nego, Tolinha, Gugu e tantos outros, como que a minha espera na praça, sob a figueira e já com as raias prontas para nossas disputas.
Ontem, por não ter aula como habitual, acordei mais cedo e desenterrei do quintal de minha casa a velha caixa de madeira em que escondo meus tesouros, as bolas de gude e piões, alguns deles “campistas” e feitos com roxinho, além de um “batata” de cedro que só se presta para ser sacrificado na contenda, bem como as tantas carteira de cigarros vazias que são colecionadas, os botões que integram meu time de futebol de mesa, juntamente com tantas outras quinquilharias que os compõem.
Ontem, por não ter aula como habitual, após as disputas e brincarmos de “bota” e “carniça”, fomos para a Pedrinha, caminhando compassadamente sobre os dormentes e trilhos de trem e lá tomamos banho de rio, alguns nus para não molharmos as roupas que usávamos e sermos castigados por nossos pais, que não aprovam a traquinagem.
Ontem, por não ter aula como habitual, por termos sido alertados de que a turma da Rua da Serra iria invadir a Rua Paraíba onde moramos, dando continuidade à rivalidade existente quanto a qual das ruas é a mais importante, armados com nossas espadas de madeira e estilingues e com um bom estoque de mamonas, comunicando-nos com nossos telefones de latas vazias, nós os surpreendemos e expulsamos de nossos domínios. E nem foi necessário utilizarmos as bombas e foguetes que Tolinha insistia em usar, para sua frustração...
Ontem, por não ter aula como habitual, montamos a chácara de Judas no campo do Ypiranga, para lá levar todos os objetos “roubados” das diversas casas da rua, até mesmo o enorme balanço da do Sr. Andrade, gerente do Banco do Brasil e alguns poucos automóveis e caminhões de outros para serem buscados no dia seguinte, além de até mesmo árvores de seus quintais para montarmos o palco, em círculo com as bananeiras e após malharmos os Judas que foram feitos com roupas velhas obtidas em nossas casas e preenchidas com palha seca e retratando personagens da cidade, devidamente identificadas por placas.
E ao meio dia do sábado de Aleluia, os incendiaremos e percorreremos as ruas da cidade, em meio ao espocar de bombas e foguetes, supridos por Tolinha que descobriu o segredo do cofre de seu pai, todos os malhando com porretes de madeira e procurando fugir ao cerco do delegado Padilha e policiais que nos barrarão na esquina do Bar Guarany. Esperamos que dessa vez Domingos não perca novamente os dedos ao explodir uma “cabeça de nego” em sua mão, evitando que Márcio Cudim tenha que novamente enterrar os pedaços encontrados em caixa de fósforo, com todo o ritual.
Ontem, por não ter aula como habitual, antes dos “meninos” se lançarem em novas disputas de “bota” e “carniça” que não são apropriadas para as “meninas”, pois além de violentas ainda apresentam algumas sacanagens como “escrever carta pra namorada” determinada pelo chefe, quando, afinal, tem-se que colocar tinta na caneta, participamos com elas das disputas de barrabol, pular corda, amarelinha, cabo de guerra, peteca, cabra cega, pique, ali mesmo na rua, juntamente com Vanira, Maricele, Raira, Lucinha, Leda, Regina, Sonia, Maria Julia, Denise, Rosa, Beatriz, Neuza, Clotilde, Teresa, Jussara e tantas outras cujos nomes se perderam na poeira do tempo, ou então pularmos corda até que ouçamos os chamados de nossos pais avisando que é chegada a hora de dormir.
Hoje, meio a essa solidão em que me encontro, por saber que não mais existem amigos e amigas com quem me encontrar, além da nostalgia e da tristeza ao ver as ruas desertas de minha cidade, fruto do desenvolvimento e da evolução cultural, tão desprovidas de crianças felizes, todas elas ora entretidas com vídeo games, celulares e computadores, sem que haja a mínima confraternização e sem conhecerem o prazer puro que um dia desfrutamos, sem alicerçarem as razões para que um dia tenham saudades de suas infâncias que passarão em branco e que lhes façam no futuro dizer – eu era feliz e não sabia...
Ontem, por não ter aula como habitual, parece que por conta de um feriado qualquer, acordei cedo e fui para as ruas para me encontrar com os tantos amigos que lá já estariam. E lá estavam Nilo, Sérgio, Turene, Nando, Rogério, Cláudio, Roberto do Bepe, Carlinhos, Nen, Zé Luiz, Adilson, Zeca, Carlos Magno, Teófilo, Toninho, Maneca, Orlando, Gustavo, Biel, Quico, Nego, Tolinha, Gugu e tantos outros, como que a minha espera na praça, sob a figueira e já com as raias prontas para nossas disputas.
Ontem, por não ter aula como habitual, acordei mais cedo e desenterrei do quintal de minha casa a velha caixa de madeira em que escondo meus tesouros, as bolas de gude e piões, alguns deles “campistas” e feitos com roxinho, além de um “batata” de cedro que só se presta para ser sacrificado na contenda, bem como as tantas carteira de cigarros vazias que são colecionadas, os botões que integram meu time de futebol de mesa, juntamente com tantas outras quinquilharias que os compõem.
Ontem, por não ter aula como habitual, após as disputas e brincarmos de “bota” e “carniça”, fomos para a Pedrinha, caminhando compassadamente sobre os dormentes e trilhos de trem e lá tomamos banho de rio, alguns nus para não molharmos as roupas que usávamos e sermos castigados por nossos pais, que não aprovam a traquinagem.
Ontem, por não ter aula como habitual, por termos sido alertados de que a turma da Rua da Serra iria invadir a Rua Paraíba onde moramos, dando continuidade à rivalidade existente quanto a qual das ruas é a mais importante, armados com nossas espadas de madeira e estilingues e com um bom estoque de mamonas, comunicando-nos com nossos telefones de latas vazias, nós os surpreendemos e expulsamos de nossos domínios. E nem foi necessário utilizarmos as bombas e foguetes que Tolinha insistia em usar, para sua frustração...
Ontem, por não ter aula como habitual, montamos a chácara de Judas no campo do Ypiranga, para lá levar todos os objetos “roubados” das diversas casas da rua, até mesmo o enorme balanço da do Sr. Andrade, gerente do Banco do Brasil e alguns poucos automóveis e caminhões de outros para serem buscados no dia seguinte, além de até mesmo árvores de seus quintais para montarmos o palco, em círculo com as bananeiras e após malharmos os Judas que foram feitos com roupas velhas obtidas em nossas casas e preenchidas com palha seca e retratando personagens da cidade, devidamente identificadas por placas.
E ao meio dia do sábado de Aleluia, os incendiaremos e percorreremos as ruas da cidade, em meio ao espocar de bombas e foguetes, supridos por Tolinha que descobriu o segredo do cofre de seu pai, todos os malhando com porretes de madeira e procurando fugir ao cerco do delegado Padilha e policiais que nos barrarão na esquina do Bar Guarany. Esperamos que dessa vez Domingos não perca novamente os dedos ao explodir uma “cabeça de nego” em sua mão, evitando que Márcio Cudim tenha que novamente enterrar os pedaços encontrados em caixa de fósforo, com todo o ritual.
Ontem, por não ter aula como habitual, antes dos “meninos” se lançarem em novas disputas de “bota” e “carniça” que não são apropriadas para as “meninas”, pois além de violentas ainda apresentam algumas sacanagens como “escrever carta pra namorada” determinada pelo chefe, quando, afinal, tem-se que colocar tinta na caneta, participamos com elas das disputas de barrabol, pular corda, amarelinha, cabo de guerra, peteca, cabra cega, pique, ali mesmo na rua, juntamente com Vanira, Maricele, Raira, Lucinha, Leda, Regina, Sonia, Maria Julia, Denise, Rosa, Beatriz, Neuza, Clotilde, Teresa, Jussara e tantas outras cujos nomes se perderam na poeira do tempo, ou então pularmos corda até que ouçamos os chamados de nossos pais avisando que é chegada a hora de dormir.
Hoje, meio a essa solidão em que me encontro, por saber que não mais existem amigos e amigas com quem me encontrar, além da nostalgia e da tristeza ao ver as ruas desertas de minha cidade, fruto do desenvolvimento e da evolução cultural, tão desprovidas de crianças felizes, todas elas ora entretidas com vídeo games, celulares e computadores, sem que haja a mínima confraternização e sem conhecerem o prazer puro que um dia desfrutamos, sem alicerçarem as razões para que um dia tenham saudades de suas infâncias que passarão em branco e que lhes façam no futuro dizer – eu era feliz e não sabia...