DIVAGAÇÕES NA TARDE CINZENTA

(Pequenas crônicas do cotidiano)
Outubro/2010



Ana  Terra ,de Érico Veríssimo ,dizia:
"Sempre que acontece alguma coisa em minha vida,está ventando"
Eu,um relis mortal,ouso inspirar-me na personagem:
Sempre que os dias são privados da luz do sol e o vento arrasta-se pelas calçadas,é como que alguma coisa "diferente" vá acontecer em minha vida.




Hoje o céu acercou-se de um cinza desbotado e na “rua de baixo” as janelas costumeiramente expostas à ciranda da vida me parecem retraídas numa estranha nostalgia.Acabrunhadas, como se atrás das vidraças segredos bem guardados ou velhas amarguras enclausuradas,estivessem tão somente à espera do exato momento de romper o limite das paredes,ganhar a plenitude da tarde que a luz do sol isolou,empreendendo fuga a um lugar qualquer onde os uivos da alma não necessitem ser sufocados e, angustias ou lágrimas, caso ocorram,sejam atos isentos de justificativas.
Pelo rádio,Johnny Mathis vai dando o tom. E que tom!
Os acordes magníficos de “My life for you” conduzem-me por caminhos tão belos que qualquer tentativa de explicação seria macular cenários tão perfeitamente desenhados em minhas emoções.
Entrego-me a esta viagem encantadora ainda que divise ,ao longe,a cara triste e encolhida da “rua de baixo”.
Uma rajada truculenta de vento derruba alguns objetos em meu local de trabalho.Juntam-se à ela, pingos escassos de uma chuva passageira e acabo me perdendo nos becos de minhas divagações.
Recomponho-me ,e os derradeiros acordes do senhor “Mathis” calam-se sob o manto de uma boa lembrança.Chuva e vento foram apenas dois impertinentes cruzando minha sala de maneira abrupta.
E o céu expõe por inteiro uma inquietante palidez...Um gavião solta um guinchado.A imagem chega-me ao campo de visão na forma de um pequeno pontinho escuro .A melancolia daquele grito soa tão abafada e distante como um dolorido lamento.

Recostado na porta,limito-me a espreitar o solitário escancarando no infinito o que a minha imaginação sugere ser as suas agruras.
Cá,onde me encontro,o eco do meu grito percorre tão somente os labirintos do imaginário,mas cria asas,atenta contra a voz endeusada de Johnny Mathis e vai , lado a lado , flanar com o gavião do espaço.
Assim,juntos,deixamos nossas "soledades"perderem-se na quietude cinzenta da tarde.
Joel Gomes  Teixeira

Clic no  link  abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=3TaSG4t1vFY

Texto reeditado
Preservados os comentários ao  texto  anterior:




Comentários
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30/10/2012 00:46 - Isabel Werlang
Caro Joel, que maravilha é essa facilidade e emotividade que você possui para romantizar um fato que para tantos não passa de uma banalidade. Abraço, conterrâneo!


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28/10/2012 20:10 - Anita D Cambuim
Joel, boa noite. E o que seria um dia comum foi por você perpetuado nessa crônica visual e agradável. Boa semana!


11/12/2011 05:10 - Chico Chicão
Meu caro Joel do meu Paraná querido.Voce me fez lembrar do período em morei na Venezuela.Situacões térmicas e geográficas diametralmente opostas.Calor e secura.Toda noite vinha uma enorme coruja se alojar num poste à frente.E quando alcava vôo,eu queria ir com ela para o Brasil.Quimeras...belo texto para uma tarde plúmbea.Escreva mais,poeta das araucárias e curucacas.Faca-nos sonhar e viajar.Obrigado.Fique na paz!


07/11/2010 12:57 - Águia Encantada [não autenticado]
Poeta,ainda bem que sabemos que em dias de céu cinza desbotado existe amigos para levar-nos para voos inimagináveis. Tenha bom ânimo!Até breve.


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05/11/2010 23:00 - Giustina
Ah, eu conheço bem essa sensação nostálgica e melancólica que nos acomete nos dia nublados! É uma sensação de estar apartado do mundo, de tentar alçar vôos e fugir do espaço material. Bela crônica, como sempre Joel! Grande abraço!


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05/11/2010 16:59 - Maria Dilma Ponte de Brito
Caro amigo vc sabe q sou sua fã incondicional. Ninguém descreve detalhadamente uma paisagem como vc. Chego a pensar que estou assistindo um filme ou lendo livro pq este seu mundo eu não conheço. Moro num lugar muito diferente do seu. Apenas com duas estações inverno e verão.Gostaria muito de saber como é esse céu cinza desbotado.


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04/11/2010 23:55 - Doroni Hilgenberg
soltar nossa mente por ai em liberdade, é daixa-la sonhar acomnpanhando o gavião em seu voo magistral em busca de novos ares. Perfeito!!! bjs


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04/11/2010 23:34 - Lu Genovez (off)
A Poesia está solta nessa crônica, Joel! A emoção bateu aqui! Genialll! Beijo grande, querido