Essa ou aquela preposição
O uso, as escolhas, diz da pessoa
“E no princípio havia o Caos”, assim inicia a criação para os gregos antigos. Já para os cristãos, “no princípio havia o verbo”. Ora, se utilizamos as palavras para nomear tudo o que existe, bem como o que jamais existiu, o verbo ainda é causa e princípio de muitas discussões.
Veja o caso do verbo chegar, por exemplo. Se você analisá-lo pelo ponto de vista do uso notará que muita gente faz a concordância com “em” (chegamos em Barretos). Essa é a normalidade em contextos informais, porém a gramática normativa a condena. O argumento da tradição ignora o uso coloquial por entender que o verbo chegar indica movimento, portanto, rege a preposição “a”. Já os verbos que indicam sentido estático, regem a preposição “em”, como morar, ficar etc.
Em meio a essa dicotomia, tradição e uso, em relação à concordância do verbo chegar, opte pela preposição “a”, até mesmo para construções do tipo: “Eu vou chegar aonde eu quero.” Caso contrário, você pode sofrer preconceito linguístico, uma vez que o uso que se faz das preposições é, sim, um indicador do conhecimento da variante culta da língua. Inclusive, a não utilização da preposição defendida pelas gramáticas tradicionais pode depor contra a sua imagem social. O ex-presidente Lula é um bom exemplo de quem teve o linguajar dissecado em inúmeros artigos, sempre num tom de desaprovação.
O fato é que se as palavras possibilitam a interação, certos usos, frutos da criação popular, como é o caso do particípio “chego”, ainda levarão a ideia do caos a ouvidos “sensíveis” que em princípio se mantêm tradicionais.