O VENTO DE ESPERANÇA
Ainda era segunda, a semana começava a nascer. Ali, refletindo sobre meu dia, e ouvia de fundo o pessoal da van da faculdade reclamando que não poderia chegar atrasado, pois tinha prova no primeiro horário. No meio disso, um burburinho me chamou a atenção. Olhei pela janela, havia uma aglomeração. Ouvi gritos e batidas.
Vendo aquela cena, me recordei de um domingo marcante. Era dia de jogo do América. O último do módulo II do Mineiro. Enfim o meu Coelhão subiria para a elite estadual.
Acordei alegre. Vesti minha camisa verde e branca e parti para o estádio, com meu pai. Fomos de metrô, velho hábito da família Lisboa. Lembrei como o velho Independência era agradável. Quanta saudade da torcida unida e junta. Sem falar do pé de abacate. Ali, a sombra dele, era o meu lugar preferido. Suspirei e sorri nostalgicamente.
– Poxa, vida! Quanta saudade daquela época!
Perdida na recordação, lembrei como era fácil sentir-se bem no estádio do América, principalmente naquele dia. Como de costume, ao chegar no estádio, o seu Gilberto – apelido carinhoso dado ao meu pai – foi comprar os ingressos, enquanto balançava entre as grades das bilheterias. A ansiedade pulsava no meu peito e meus olhos pareciam dizer:
_ Vamos, pai! Quero ver o Ameriquinha jogar!
Passei rapidamente pela catraca. Sorri para a policial que fazia a fiscalização, abracei meu pai e parti para onde crianças aguardavam para entrar com os jogadores. Tive a sorte de entrar de mãos dadas com o Euller. Estava em êxtase. Aos 12 anos, conseguia entrar ao lado do meu maior ídolo.
Segurando sua mão, sorri e fui retribuída. Recordando, não sei ao certo quem deu sorte a quem. Se foi ele ou eu. Eufórica, deixei o gramado e corri para o meu pai, contando:
_ Papai, você viu? Eu entrei com ele.
Mal começou o jogo e já me sentia vitoriosa. O jogo rolou: América e Ideal FC. O América se consagraria ali o campeão, fazendo a alegria da torcida.
O América começou a partida perdendo, até que o Filho do Vento – como é conhecido o Euller – em cobrança de pênalti inusitada, ao invés de chutar a gol, tocou para Douglas, que rolou para o fundo das redes. Deixando o goleiro, os jogadores e todos nós sem reação, comemoramos sem entender o lance. Não me contive de emoção. Chorei, abracei meu pai e os torcedores ao lado.
O encontro com Euller foi realmente sortudo. Não é que ele ao fim da partida aumentou o placar? 2 a 1 para o América. O estádio explodiu de emoção. Chorei. Cantei. Vibrei com o retorno do meu time. Explodindo de felicidade, ao lado da charanga e demais torcedores, voltamos para casa gritando:
_ Coelhôo! Coelhôo!.
25 de maio de 2008 seria realmente um dia marcante. Recordando essa história, percebi meus olhos marejados. Olhei discretamente para ver se alguém havia notado e retomei a atenção para a cena à minha frente.
Não era um jogo. Era a manifestação contra a Reforma Previdenciária. Não sei o que me fez ligar um fato a outro, mas a união dos Sindicatos, população e cidadãos que brigavam por seus direitos me emocionou. Pouco importei com o tempo. Nem reparei que já estávamos parados ali há mais de 1 hora.
A única coisa consegui pensar ali foi:
_ Do que valem algumas horas perdidas? Ou um dia de estudo perdido? Quando nossos servidores podem perder todos os seus direitos e benefícios?
Intrigada com toda situação, continuei ali, observando a manifestação que afastava. Ao fundo ainda ouvia seus gritos e manifestos, que espero ter sido ouvido pelos governantes.