BRAVO!!!
Um dia desses, pela tv, assistia à uma exibição de patinação artística no gelo. Acho um espetáculo de grande beleza. Somente mulheres participavam. Se não me engano, disputavam vaga para o campeonato mundial. Como em toda competição, a disputa era acirrada. Havia quem se destacasse pela graciosidade, pela técnica, o talento, a simpatia, e a garra. Figurinos impecáveis, melodias de extremo bom gosto, plateia animada e participativa.
Lindo, tudo muito lindo, demais. Maravilhosos figurinos esvoaçantes tremulando ao vento, provocado pelo deslizar dos patins...E a plateia se deliciando a cada manobra bem feita, cada rodopio, cada desafio à gravidade, ao equilíbrio e a si mesmo. No ritmo da velocidade, da emoção, da entrega, da paixão do prazer de ir além dos próprios limites.
E, fiquei a imaginar o esforço e a dedicação desses profissionais até o grande dia. São anos e anos de preparo. Treinos exaustivos desafiando os limites do corpo. E quando é chegado o grande dia, apresentam-se em quatro ou cinco minutos. Um tempo tão curto mas, capaz de fazer nascer um campeão ou,capaz de destruir os sonhos, a autoestima, a esperança daqueles que por uma pequena falha, um pequeno descuido colocam tudo a perder. Basta um pequeno desequilíbrio para que, juntamente do corpo, tudo venha abaixo.
Foi, infelizmente, o que aconteceu com a russa, uma das favoritas cujo nome, não me ocorre, no momento. Mas não faria diferença; russa, canadense, francesa, americana...todas na mesma situação teriam desabado como desabou, literalmente a favorita russa. Foram três quedas consecutivas. Na primeira, conseguiu, rapidamente se recompor e continuar sua apresentação. Na segunda queda, o bonito sorriso, já não embelezava o rosto confiante do início da exibição. Mas com o incentivo de todos que a assistiam, conseguiu mais uma vez, se reerguer apesar, de visivelmente abatida e desanimada. Na terceira queda, o desequilíbrio emocional já mostrava-se muito maior do que o físico. Mesmo assim, prosseguiu. No rosto, lágrimas copiosamente, desciam dos seus olhos entristecidos. Na alma, o frio do gelo que a congelava por dentro. No final, acenava para aquelas pessoas ali presentes, que em momento algum, deixaram de incentivá-la a prosseguir. Acenava aos prantos, agradecendo e pedindo perdão por ter falhado, e por ter decepcionado a todos. Foi um belo espetáculo da jovem russa que seguiu até o fim. E, também, das pessoas que ali estavam e que, com efusivos aplausos souberam entender que aquele não era o dia da jovem artista. Souberam compreender que naquele momento, tudo que a linda jovem precisava era de um apertado abraço na forma de grandes aplausos. Meus sinceros aplausos a todos. Saber sentir a dor do outro nos torna adoravelmente mais humanos.
Elenice Bastos.