ARRANCANDO OS BOTÕES
Em cada instante que modificamos o nosso pensamento, embarcamos em uma nova dimensão mental. Quando, por exemplo, ao anoitecer nos preparamos para dormir ou quando acordamos de manhã e abrimos os olhos, essa perspectiva se repete. O termo “dimensão” representa neste contexto uma nova leitura do que se faz. Pode retratar igualmente uma comunicação do que ansiamos, do que aspiramos transmitir ao nosso corpo ou aos outros. Nem todos percebem que tudo ao nosso redor está a todo tempo comunicando algo a si próprio ou a alguém. E nós estamos a toda ocasião, ainda que inconscientemente, tentando decodificar o que sobrevém ao nosso redor. E essa interpretação pode nos dizer muito sobre o que sentimos e sobre o que estamos planejando para o nosso dia. Todo ser vivo ou inanimado está metaforicamente nos dizendo alguma coisa. Mesmo se estamos em um lugar escuro, sombrio e vazio, estaremos decodificando aquilo para explicar o que ocorre. Tudo nos diz algo, mesmo sem palavra, sem som ou sem cor. Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, nos instrui que “o desejo de ir em direção ao outro, de se comunicar com ele, ajudá-lo de forma eficiente, faz nascer em nós uma imensa energia e uma grande alegria, sem nenhuma sensação de cansaço”.
Vale dizer que muitos de nós temos uma imensa vontade de compreender o outro através do som, das expressões corporais, do modo de falar, do jeito de olhar ou mesmo da entonação verbal. Cada criatura viva, de acordo com os sentidos que possui, está ininterruptamente traduzindo o ambiente, o seu habitat. O ser humano pode se sentir inseguro e instável onde ele não é capaz de interpretar, onde ele é impelido a não pensar, a não sentir e pode então permanecer em estado de desequilíbrio emocional. Alerta-nos, Albert Einstein, físico teórico alemão, que “a compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos”.
Outrossim, é que o homem precisa se identificar com algo para se sentir bem, para estar à vontade. Isso é algo extremamente relevante, pois quando o processo de comunicação é inexato ou incompleto, não conseguimos compreender o outro; não conseguimos entender o que ocorre e isso pode nos fazer taxar uma pessoa, uma situação ou lugar, por não termos as informações adequadas para a leitura plena.
É verdade que existem muitas formas de se comunicar - através de um sorriso ou de um bradar à viva voz no chamamento de alguém; manifestar-se com as mãos, ou com gestos em mímica. No hodierno é comum, similarmente, o comunicar-se através do linguajar do “internetês” em redes sociais. Pode ser ainda que com um simples beijo carinhoso resolvamos todo um problema. Do mesmo modo, em um encontro, as lágrimas podem extravasar algo contido e que não se consiga explicar racionalmente. Bem assim um aperto de mão pode esclarecer muito sobre a personalidade de alguém para enxergarmos melhor o seu interior. Já um abraço pode nos dizer se alguém é mais emotivo, mais afável e se quer bem ao outro e por isso estar perto. São infinitas as formas de nos fazer entender. É bem verdade que não conseguiríamos em tão poucos traços explanar aqui a respeito da valiosa ferramenta chamada comunicação. Essa expande o mundo, pode transformar a vida das pessoas, torna a existência mais feliz e mais leve. Em contrapartida a falta de expressão, precipuamente consciente, pode tornar alguém mais abatido e o levar até desenvolver enfermidades psicossomáticas. Comunicar-se, seja como for, pode auxiliar na criação de meios de fazer evoluir o universo humano em que todos serão atraídos para uma informação, para uma ideia, para o que pode abrir a mente para o novo.
Lado outro é muito curioso que até quando não queremos comunicar absolutamente nada, estaremos manifestando algo ao que está a nossa volta. Não é difícil compreender o mundo ou conceber entendimento sobre as pessoas. Difícil é sairmos de nossas idiossincrasias para nos declinarmos e tentarmos alcançar o que se passa com o outro em seu íntimo. Complexo mesmo é nos colocarmos no lugar de uma pessoa nos acontecimentos e no transpassar da vida dela, quando apenas olhamos para os nossos “botões”. Trabalhoso é viver o que o próximo vive e apenas entender que apenas as adversidades ou as soluções próprias são as mais importantes. Conjecturar a maldade no outro é muito elementar. Fatigante é atravessar as barreiras e enfrentar todas as superações diárias que ele tem de perpetrar para chegar ao seu objetivo. Daqui do nosso lugar não conseguimos interpretar o que é a existência de cada um. Indispensável é nos desconstruirmos diariamente para podermos estar ao lado de quem precisa e nos abrirmos para uma nova visão. Para isso será necessário não termos medo de nos expressarmos, não termos receio de sermos pequenos, não temermos a simplicidade, não termos embaraço com as diferenças que existem em cada um de nós. Bem assim nos escreve o professor e escritor, Augusto Cury, que “o sonho da igualdade só cresce no terreno do respeito pelas diferenças”.