Mais ou mas
Nunca na história as pessoas escreveram tanto. Os jovens, por exemplo, tornaram-se ótimos digitadores! No entanto, deixam a desejar quanto à capacidade de expressão verbal. Olham e não veem. Muitas vezes, até, um “mas” vira um “mais”.
Por que, em geral, as pessoas sentem tanta dificuldade para formular um pensamento em língua escrita? Talvez, o que lhes faltam seja mesmo as ferramentas com que trabalhar.
No texto* “A natureza da linguagem humana”, a profa. Esmeralda Vailati Negrão comenta: “As línguas são compostas por um número infinito de sentenças [...]. Por outro lado, os elementos mínimos a partir dos quais construímos essas sentenças são um conjunto finito”. Dito de outro modo, com um número finito de palavras uma pessoa consegue formar um número infinito de frases.
Alguns números: o Dicionário Escolar da Língua Portuguesa (ABL) possui mais de trinta mil verbetes. Já o Dicionário Aurélio Eletrônico comenta que Shakespeare utilizou cerca de 15 mil palavras em Otelo, o Mouro de Veneza. Assim, pergunto: quantas palavras você conhece?
Talvez seja uma boa analogia dizer que o número de ferramentas de que dispõe um marceneiro em sua oficina influi, sim, na qualidade do seu trabalho, ao dar formas à madeira.
Outro dia recebi uma mensagem pelo Whatsapp, dizia: “Desculpe não nos vermos mais é tudo muito corrido”. E logo desconfiei se a pessoa quis mesmo usar a palavra “mais”em razão do contexto da comunicação. Porque se encaixaria melhor a frase: “Desculpe não nos vermos, mas é tudo muito corrido”.
* NEGRÃO, Esmeralda Vailati. A natureza da linguagem humana. IN: FIORIN, J. L. Linguística? Que é isso? São Paulo: Contexto, 2013. p. 83.