CIDADE DE SANTOS

O jornal pediu-me para viajar para São Paulo e depois fotografar os pontos turísticos da cidade de Santos. Terminei o obituário e viajei para a cidade. Foi uma viagem demorada porque fui de ônibus e quando cheguei, fotografei muitos lugares: a antiga cadeia, o panteão dos Andradas... entrei na Igreja do Carmo. Era uma igreja antiga de 1589. Assisti a missa, mas o que me assustou foram as quinze pessoas presentes. Todas sozinhas. Sai pela cidade depois e fiquei observando solidões: o mendigo; a pena do pombo no meio da calçada; a manequim da loja com a sua roupa dourada; o chopp do homem sobre a mesa do bar ainda vazio, a foto do antigo time do Santos pendurado na parede da barbearia; o café no botequim; o bolo de chocolate na rodoviária e, na volta, o vendedor de caranguejos parado na rodovia.

Quem para o carro, não quer comprar o crustáceo, mas ajudar um solitário, um invertebrado.

Dormi no ônibus, não havia ninguém ao meu lado. O ônibus parou no meio da rodovia e subiu uma mulher para vender cocada. Imaginei ali o final feliz: a vendedora terá um romance com o motorista, afinal o coco não é um fruto com uma polpa doce que compensa a todos?

Pensei em finais felizes. Imaginei o beijo das lagostas. Os invertebrados estão agora deitados porque aguardam um ósculo, outro invertebrado.

DO LIVRO:"TOUROS EM COPACABANA"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 02/04/2017
Reeditado em 18/05/2018
Código do texto: T5959607
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