POR QUÊ MORREU MARIA EDUARDA?
POR QUÊ MORREU MARIA EDUARDA?
Estava na escola.
Não era um bar. Não era uma balada. Não era noite. Nem madrugada.
Estava com sede e foi ao bebedouro.
Não chegou a matar sua sede de água. Foi matada pela sede de violência.
Estava com uniforme da escola da prefeitura do Rio de Janeiro. O tênis cor-de-rosa tingiu-se, involuntariamente de vermelho. Pelo ato voluntário de quem, por dever, teria que protegê-la.
Era medalhista em Educação Física.
Suas últimas medalhas, três, vieram de pistolas e fuzis. Que determinaram o final do jogo da vida. E Maria Eduarda subiu ao pódio dos céus. No lugar dos aplausos. Gritos de desespero.
Deixou no chão sua marca de sangue. Sangue que escorreu manchando sonhos e anseios.
A multidão contagiada pela dor invocava ajuda, revolta e indignação.
Não eram fogos de artifício. Não eram rojões.
Eram gás de pimenta, coquetel molotov e tiros. Milhares e milhares… Enquanto Maria Eduarda ascendia, ali o inferno ardia.
E pessoas desmaiavam. E pessoas choravam. Emparedadas em si mesmas pelo medo.
Pelo quê morreu Maria Eduarda?
Pelos enganos de uma sociedade que inverte valores. Privilegia a violência. O crime. A intransigência da demagogia. Discursos inflamados que ateiam fogo de um lado e de outro. Armam bandidos, políca, politicos e populares. Armamento pesado. Armamento branco. E a guerra agarra ferrenha os inocentes e os sonhadores.
Para quê morreu Maria Eduarda?
Para que as estatísticas subissem nos gráficos da impunidade mascarada de sensacionalismo midiático.
Para que a consciência do preconceito racial e social durasse o tempo de um suspiro longo. O ódio se traveste de preconceito de classes. Que se enobrece ao matar bandido para livrar o povo da doença da descriminalização. Que exclui por ser a via expressa que leva ao topo da indiferença.
Quem chora Maria Eduarda?
A mãe.
A mãe que a gerou num ventre livre. Chora. Escrava de uma dor cruel.
A impotência de injetar vida naquele corpo morto. Asfixiado pelas atitudes tóxicas de uma sociedade insensível.
A mãe de Maria Eduarda eterniza aqueles 13 anos de convivência com as lágrimas da única pergunta que lhe ficará, para sempre, sem resposta: “Por quê morreu Maria Eduarda?”
Mírian Cerqueira Leite
Em memória de Maria Eduarda Alves da Conceição, 13 anos, estudante, morta - dia 30 de março - no Rio de Janeiro pela Polícia Militar