Presídio Central
Em tempos nebulosos de fascismo político e social e de propagação de discursos de intolerância e ódio, o filme “Central”, em cartaz nos cinemas de Porto Alegre, aborda com maestria a problemática do sistema carcerário brasileiro, desmistificando o senso comum preconceituoso que impera na sociedade acerca da “resolutividade” da prisão. Com depoimentos de detentos, ex-apenados, policiais, delegados, promotores, jornalistas e pesquisadores, o documentário explora as condições desumanas do cárcere, denunciando a superlotação, as péssimas condições de higiene e saneamento, a organização do crime, a corrupção e a ineficiência do Estado ao gerenciar e prover um sistema punitivo e de vingança criado no século XIX. Mostra uma organização social extremamente cruel e homofóbica voltada aos pobres e negros, onde mais de 60% dos detentos são presos por tráfico de drogas e 70% têm menos de 24 anos. Jovens infantis que entram amedrontados no presídio por cometerem pequenas contraversões e se tornam dentro do cárcere bandidos capazes de tudo. Retornam para a sociedade em liberdade após passarem por uma escola do crime! Ao contrário do que a maioria pensa, a organização criminosa está dentro dos presídios e é ela quem organiza o sistema, e quanto mais detentos, maior será a insegurança social, maior será o lucro das facções e menor será o poder do Estado. Um sistema pífio, sem resultados, fictício, barato para o Estado (o presídio central recebe por mês do Estado 20 mil reais para gerir mais de cinco mil presos) e que produz ainda mais instabilidade social. Um sistema fomentado em função do uso de drogas em um país de conservadorismo extremo. Um sistema que é reflexo da desigualdade social, um depósito de excluídos, um refugo para a segregação e um problema social. Um filme realmente potente.