A DROGA DO AMOR
Como numa seringa cheia de heroína,
Nosso amor se despedia da rotina ao viajar mundos superlativos que embalavam canções da nossa playlist casual, junto aos nossos corações apaixonados.
Solitários, amarrados à cama pelos lençóis, dramatizávamos a experiência triste de John e Yoko - platônicos, amargurados e ateus.
Simplesmente percebíamos o poder da droga poderosa, da cobra venenosa do Amor – A dimensão dos seus abraços em nossas vidas.
Por ser droga, ficávamos no limbo do desespero... num incerto infortúnio;
Por ser cobra, podia nos picar e nos matar em segundos.
Incendiados por milhões de tochas encantadas, não víamos lógica em nada, mas queríamos definir aquele amor objetivamente, num pragmatismo dissociado da razão.
Seria possível? Lógico que não! Às vezes, éramos ferida exposta, vísceras podres nos bicos dos abutres, estávamos tão entranhados e encarnados por aquela droga de amor, que subia um fedor a tomar a atmosfera por completo.
Nosso amor não possuía matizes; mas, caleidoscópio, era efêmero nos cortes, colorido... era venenoso, poluído.
Era simbólico, Brilhante, como são os diamantes.
Não existiam palavras exatas, somente a reação semântica de se arranjar nos espaços e nos ambientes, tentávamos manter nosso próprio dialeto, em linguagens figuradas de todos os tamanhos e todos os apelos pornográficos, criando nossos próprios vernáculos para cada contato.
Nosso amor, a Droga do nosso Amor vivia se escondendo pelos cantos, para evitar o drama de tentar se tornar um verdadeiro amor – Aquele que começa a prevenir rotinas, trazer organização para o pequeno caos, que te acorda às quatro para ir ao hospital; aquele que pensa no futuro, que começa a falar sério, que começa a falar com você... que começa a se tornar seu espelho ao contrário; trava seus atalhos, não dá mais condições aos prazeres do isolamento auto masculino.
A droga do nosso Amor, enfim acabou, como um fósforo aceso, foi chama rápida e quase nem começou.