MELINDROSIDADE ("A caminhada é dura mas a graça de viver é levar a cruz como uma benção sem murmurar, sem melindro, sem julgar." — Helen Dias)
Numa manhã, enquanto a sala de aula se enchia de vozes e risos, meus olhos se fixaram numa aluna que sempre se destacava por sua discrição. Ela era uma estudante exemplar, mas havia algo em sua expressão que me intrigava. Decidi sugerir-lhe uma mudança, um toque de cor para realçar sua beleza natural. No dia seguinte, ela apareceu com um batom vermelho vivo que iluminava seu sorriso.
Compartilhei minha observação com a classe, elogiando não só o batom, mas também o enfeite em seus cabelos. Hoje, talvez, essa atitude possa ser vista como inapropriada, mas minha intenção era puramente estética. Aos 60 anos, meu interesse era apenas em apreciar a beleza das coisas.
A arte de ensinar não deveria ser uma prática distante e neutra, mas uma doação de si mesmo. Li uma acusação contra um professor carismático que teria ultrapassado os limites da intimidade com suas alunas. Percebi que talvez houvesse uma conspiração contra ele, talvez por alunas insatisfeitas. Na universidade, todos são adultos, mas ainda assim, é preciso cautela.
O moralismo pode ajudar na disciplina, mas não é didático. Ensinar é um ato de amor e aprender é um ato de respeito. O maior problema na relação professor/aluno é a tensão constante, a falta de amizade. Infelizmente, nem sempre os limites são respeitados.
Nesse caso, a aluna que eu havia elogiado reagiu de forma agressiva, exigindo respeito na frente de todos. Ela afirmou que não se maquiou por minha causa. Um dos presentes, vendo minha tristeza, tentou amenizar a situação. Não sei o que ela realmente pensou, mas talvez tenha se sentido envergonhada por parecer que estava dando importância ao professor. Portanto, talvez ela estivesse empoderada demais para tanta humildade requerida.
Relatei, também, este fato, porque li aqui na internet a observação de um apresentador de TV dizendo que a educação está tão rara hoje em dia, que se formos educados com uma pessoa, ela acha que estamos "dando em cima" dela. E o excesso de proteção blinda a filtragem dos conhecimentos necessários, tornando-se vulgar.
Aí lembrei-me de outro fato: eu era um dos bons alunos da professora Coraci, no 7º ano, 1973, quando me senti deveras honrado ao receber uma instrução muito particular. Ela me sugeriu que quando eu fosse tomar banho, lavasse as minhas orelhas por dentro, pois estavam sujas de cera. Observação dessa natureza ofenderia qualquer adolescente de hoje em qualquer escola. Ainda mais, vinda de um professor feio para uma aluna. Talvez, isso, tachassem-no até de bullying ou assédio. Porém, eu sou grato a minha professora, visto que até hoje, lembro-me dela no banheiro e lavo as minhas orelhas.
O mal da educação é o alto grau de melindrosidade dos indivíduos. o Mundo estragou-se a si mesmo. As pessoas vivem armadas umas contra as outras em busca de indenização, e tudo ofende os vitimistas. Precisamos amar as pessoas, mas elas têm medo de ser amadas. Conselhos e elogios não devem ser dados mais. Machado de Assis disse: "Está morto: podemos elogiá-lo à vontade." Mas, por isso digo aos vivos, devemos prestar assessoria, quando for solicitado e cobrar por isso. O "Tio" da escola foi substituído pelo "profissional da educação", e a escola tornou-se um caos!