Não ligo pra jabuti

Sou um véio matuto cabreiro e desconfiado. Detesto me meter naquilo que não entendo ou que meu sexto sentido desaconselha. Sou precavido paca. Também não gosto de nada fácil ou grátis. Lembram-se do samba de Ataulfo Alves? "Laranja madura, na beira da estrada. Ou tá bichada, Zé. Ou tem maribondo no pé". Portanto sou mesmo desconfiado, prefiro obque conheço mesmo não sendo grande coisa.

Sou um caso perdido. Um tempo desse minhas filhas quiseram me dar um celular da moda, bem incrementado, último modelo, penso que estavam constrangidas com o que as outras pessoas podem pensar do meu velhinho e demodê LG, que, aliás, pouco uso, prefiro o telefone fixo. A minha tevê é antiga e analógica, uma National, já foi várias vezes pro concerto, como desligaram a antena do prédio, só pega digital, estou vendo as imagens com dificuldades, vou comprar um conversor, mas na tevê só assisto à novela Ezel, uma novela turca. Roupa? Raramente compro, só uso bermuda e camisa de meia e só calço chinelo. Mas tenho guardado debaixo da cama um tenis Adidas dos anos 80.

Compreendo e admito que eu sou um reacionário, conservador, dinossauro. Mas eu sou assim e priu. É como diz o samba: "Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim".

Por fim vou lembrar o que disse o saudoso senador Vitorino Freire (sua família vivia em Arcoverde, chegei a conhecer Votorino), ele disse: "Em rio de piranha, macaco bebe água de canudinho e jacaré nada de costas, e quando o caboclo vai pela estrada e vê um jabuti preso numa forquilha, no alto de uma árvore, segue o seu caminho sem surpresa, pois jabuti não sobe em árvore, então alguém o colocou lá".

Sou um matuto, nem ligo pra jabuti. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 31/03/2017
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