DEPRESSÃO OU DESASSOSSEGO ("Quando o modelo de vida leva a um esgotamento, é fundamental questionar se vale a pena continuar no mesmo caminho." — Mario Sergio Cortella)
Sempre gostei de escrever crônicas. De transformar as experiências cotidianas em relatos que mesclam humor, ironia, poesia e reflexão. De brincar com as palavras, criando imagens e sons que encantam os leitores. Mas hoje, confesso, estou sem inspiração. Talvez seja o cansaço de corrigir as provas dos meus alunos, ou a falta de uma boa noite de sono. Talvez seja o excesso de cafeína, ou a falta de um bom assunto. O fato é que me sinto vazio, sem nada de interessante para contar.
Olho para o celular, na esperança de encontrar alguma mensagem que me anime. Mas o que vejo é um daqueles textos motivacionais que circulam pelo Whatsapp, dizendo para eu não deixar que as pessoas negativas atrapalhem os meus sonhos. Penso em responder com um emoji de raiva, mas me contenho. Afinal, quem enviou deve ter boas intenções. Mas, sinceramente, esse tipo de frase não me ajuda em nada. Pelo contrário, me faz sentir ainda mais frustrado, como se eu fosse o único culpado por não realizar os meus desejos.
Respiro fundo e tento me acalmar. Sei que não adianta brigar com o mundo, nem me isolar em uma bolha de egoísmo. Sei que preciso conviver com as diferenças, aceitar as críticas, dialogar com os que pensam diferente de mim. Mas, às vezes, isso é tão difícil. Às vezes, eu gostaria de poder dizer tudo o que penso, sem me preocupar com as consequências. Às vezes, eu gostaria de poder ser eu mesmo, sem me adaptar às expectativas alheias. Às vezes, eu gostaria de poder ser livre, sem me sentir preso.
Olho para a carteira e vejo as cédulas que ganhei com o meu trabalho. Não são muitas, mas são honestas. Penso em como é duro ganhar dinheiro, e como é fácil gastá-lo. Penso em como é raro ser reconhecido, e como é comum ser explorado. Penso em como é difícil brilhar, e como é fácil ofuscar. Penso em como é tentador se achar melhor do que os outros, e como é difícil se colocar no lugar deles.
Olho para o relógio e vejo que o tempo passa rápido. Sinto uma pontada de ansiedade, pensando no que ainda tenho que fazer, no que ainda não fiz, no que talvez nunca faça. Sinto uma onda de estresse, pensando nos problemas que podem surgir, nas dificuldades que podem aumentar, nas oportunidades que podem escapar. Sinto uma falta de paz, pensando no que me preocupa, no que me angustia, no que me aflige. Mas, então, me lembro de que não adianta sofrer por antecipação, de que não posso controlar tudo, de que preciso confiar na vida.
Olho para o céu e vejo que a noite já cai. Sinto uma vontade de dormir, de descansar, de esquecer. Sinto uma necessidade de silêncio, de tranquilidade, de serenidade. Sinto uma esperança de sonhar, de renascer, de recomeçar. A crônica, que começou sem graça, termina com uma prece. Peço a Deus, aos anjos, aos santos, que me deem uma boa noite de sono. E que, amanhã, eu possa acordar com mais inspiração, mais alegria, mais amor. Porque, afinal, a vida é uma eterna crônica, que se renova a cada dia, com novas cores, novos sabores, novas emoções.