Mário e a metáfora

Acho que quem não usa a imaginação fica parecido com um robô. Sem a imaginação o ser humano não consegue chupar direito nem um pirulito, às vezes parece também um fantoche, marionete, sendo acionado pelos cordéis, um trapo humano.

Aimaginação para mim é como alimento, e é algo abrangente que engloba divagação, fantasia sonhos e etc e coisa e tal. Por outro lado, acho que para exercitar a imaginação ninguém precisa desprezar a realidade e viver apenas no mundo da lua. Na vida é preciso dosar o sonho com a realidade. Mas insisto: é fundamental preservar um tempinho paraa imaginação. Ela aé, acrditem, o oxigênio da alma, retempera nossas forças e nos deixa mais leves para peitar as agruras do cotidiano em preto e branco, chato e, nao raro, perverso.

Sempre gosto de ficar no meu cantinho assuntando a maçaranduba do tempo. E haja divagações! A minha imaginação faz cabriolas, dá saltos soltos, faz bundas-canascas, vira as cenecas e pinta o sete.

Vou confessar algo: muito do que escvrevo, as minhas maltraçadas, é baseado nessas divagações. Juro. Quando coloco no texto as reflexões de um certo coroa dissecando o passado, isso é rsultado das minhas fantasias que correm soltas montada num pangaré dos sonhos que a mim parece um azaalão alado, e qualquer estopa promovo a tapete mágico, um pneu daquele que o povo usa no mar para boiar vira transatlántico de luxonavegando por mares nunca dantes navegados, ou seja, os barreiros da minha infância.

Dia desses, assistindo mais uma vez a um filme que adoro, "O Carteiro e o Poeta", fiquei maravilhado com a cena em que o carteiro, Mário, um homem simplório e muito ingênuo, está passeando na praiacom opoeta Pablo Neruda. O carteiro estava apaixonado por uma moça chamada Beatriz e quer fazer um poema para ela, mas é mobral em poesia. Então ele ouve Neruda pronunciar uma certa palavra e, de repente, pergunta ao poeta: - Dom Pablo, oque éuma metáfora? O poeta não consegue explicar direito o significado exato, a não ser declamando um poema. Mário não entende. No outro dia estão passeandona praia e o poeta pergunta a Mário o que ele sente quando vê Beatriz. Ele responde que fica desorientado tal e qual os barcos no mar em meio a uma tormenta, balançando muito. Neruda ri e diz: - Mário, você acaba de criar uma metáfora.

Preciso aprender com Mário a fazer algumas metáforas, imaginação não vai faltar. Inté.