Cabruuummm!! Saudade do tempo em que Cabruuumm era só a onomatopeia para o som do trovão ribombando em meio à tempestade. Nas revistinhas em quadrinhos ele vinha criar o efeito para o leitor de como a coisa estava brava lá pros meios do universo. Não, Cabruuummm agora é muito mais que isso. É o som da realidade. E nem é um trovão de verdade, numa tempestade de raios e ventos, que mais cedo ou mais tarde vai passar.
Nesta madrugada de 30 de março de 2017, por volta das 03h, um Cabruuumm tenebroso passa chispando pelo ar e vai ganhando força, tomando mais espaço no meu quarto até eu entender que alguma tempestade está rolando brava em algum lugar muito próximo. Emergindo do sono para o mundo real, me levanto ainda meio dormindo, vou até a janela. Não sei por que, mas nestas horas o impulso é sempre correr para a janela: ansiedade de conferir o mundo lá fora, ver se captura o acontecimento no ar.
Capturo! Algo de muito estranho acontece mesmo na cidade. E vem da região central, aqui pertinho de casa. Aos poucos, a ficha vai caindo e percebo: se o Brasil não está jogando às 3 da madrugada, se a cidade dorme a esta hora, então a bandidagem veio mais uma vez se divertir com suas bombinhas. E nesse caso não é um simples traquezinho, não, é pura dinamite. O que era só pressentimento vira certeza: estão acertando mais outro Banco da cidade. Só não posso atinar qual deles. Mas dúvida, já não tenho nenhuma.
A sensação é horrível. A cada estrondo é como se desferissem um golpe no meio da cara da gente. É uma mistura de sentimentos que não só aterroriza, mas também fere a cidadã que anda direito com seus deveres, que faz a sua parte, que é usuária dos serviços bancários da antiga pacata cidade de Lagoa da Prata. Sim, antiga pacata, porque há muito “pacata, calma, tranquila” são adjetivos que não se encaixam na vida do lagopratense. E como é triste constatar — vindo de uma geração em que todos esses adjetivos coexistiam na mais perfeita harmonia — que, como na minissérie da Globo “Nada será como antes”.
Há menos de seis meses, o Banco do Brasil; nesta madrugada, a Caixa Econômica Federal, os dois maiores Bancos da cidade. Os usuários do primeiro ficaram, de repente, obrigados a se valer dos correspondentes bancários, como os Correios, correndo riscos nas filas, visto que as agências não oferecem um pingo de segurança e em curto espaço de tempo já sofreram também dois assaltos à mão armada, no meio de uma tarde qualquer.
Se antes assaltos e explosões, como as desta madrugada, aconteciam apenas nas grandes metrópoles, há muito migraram também para as pequenas cidades. E para as pequenas localidades que possuem apenas uma agência dos Bancos mais tradicionais, imagine o tamanho do transtorno, visto que em menos de seis meses, o atendimento não se regulariza integralmente. É muito comum, o cidadão ter que se deslocar até a cidade vizinha para resolver assuntos só possíveis nas agências credenciadas.
Mas, transtornos à parte, depois de tudo, resta aquele último suspiro de consolo que ultimamente arremata esse tipo de crime: ainda bem que não houve mortes. Levaram o dinheiro, levaram bens, mas não mataram. Dinheiro a gente ganha mais, TV ou carro, a gente compra outros. E convergindo para a zona de conforto de quem não tem muito o que fazer, as pessoas se acomodam, a vida segue, as notícias não chegam, ninguém toca mais no assunto, nada se finaliza...
E passado o calor do acontecimento, com uma naturalidade espantosa os próprios cidadãos (fraudados, roubados, prejudicados) confabulam entre si hipóteses sobre o próximo alvo. E talvez seja mesmo isso o que mais espanta. A capacidade que vamos adquirindo de não nos espantarmos com mais nada. E se não há espanto, não há indignação... Meu receio é de que estejamos mesmo, como já afirmaram alguns pensadores, perdendo pouco a pouco a capacidade de nos indignarmos... Vamos nos acostumando com tudo, sempre à espera do próximo alvo, ou do próximo Cabruuummm!
Nesta madrugada de 30 de março de 2017, por volta das 03h, um Cabruuumm tenebroso passa chispando pelo ar e vai ganhando força, tomando mais espaço no meu quarto até eu entender que alguma tempestade está rolando brava em algum lugar muito próximo. Emergindo do sono para o mundo real, me levanto ainda meio dormindo, vou até a janela. Não sei por que, mas nestas horas o impulso é sempre correr para a janela: ansiedade de conferir o mundo lá fora, ver se captura o acontecimento no ar.
Capturo! Algo de muito estranho acontece mesmo na cidade. E vem da região central, aqui pertinho de casa. Aos poucos, a ficha vai caindo e percebo: se o Brasil não está jogando às 3 da madrugada, se a cidade dorme a esta hora, então a bandidagem veio mais uma vez se divertir com suas bombinhas. E nesse caso não é um simples traquezinho, não, é pura dinamite. O que era só pressentimento vira certeza: estão acertando mais outro Banco da cidade. Só não posso atinar qual deles. Mas dúvida, já não tenho nenhuma.
A sensação é horrível. A cada estrondo é como se desferissem um golpe no meio da cara da gente. É uma mistura de sentimentos que não só aterroriza, mas também fere a cidadã que anda direito com seus deveres, que faz a sua parte, que é usuária dos serviços bancários da antiga pacata cidade de Lagoa da Prata. Sim, antiga pacata, porque há muito “pacata, calma, tranquila” são adjetivos que não se encaixam na vida do lagopratense. E como é triste constatar — vindo de uma geração em que todos esses adjetivos coexistiam na mais perfeita harmonia — que, como na minissérie da Globo “Nada será como antes”.
Há menos de seis meses, o Banco do Brasil; nesta madrugada, a Caixa Econômica Federal, os dois maiores Bancos da cidade. Os usuários do primeiro ficaram, de repente, obrigados a se valer dos correspondentes bancários, como os Correios, correndo riscos nas filas, visto que as agências não oferecem um pingo de segurança e em curto espaço de tempo já sofreram também dois assaltos à mão armada, no meio de uma tarde qualquer.
Se antes assaltos e explosões, como as desta madrugada, aconteciam apenas nas grandes metrópoles, há muito migraram também para as pequenas cidades. E para as pequenas localidades que possuem apenas uma agência dos Bancos mais tradicionais, imagine o tamanho do transtorno, visto que em menos de seis meses, o atendimento não se regulariza integralmente. É muito comum, o cidadão ter que se deslocar até a cidade vizinha para resolver assuntos só possíveis nas agências credenciadas.
Mas, transtornos à parte, depois de tudo, resta aquele último suspiro de consolo que ultimamente arremata esse tipo de crime: ainda bem que não houve mortes. Levaram o dinheiro, levaram bens, mas não mataram. Dinheiro a gente ganha mais, TV ou carro, a gente compra outros. E convergindo para a zona de conforto de quem não tem muito o que fazer, as pessoas se acomodam, a vida segue, as notícias não chegam, ninguém toca mais no assunto, nada se finaliza...
E passado o calor do acontecimento, com uma naturalidade espantosa os próprios cidadãos (fraudados, roubados, prejudicados) confabulam entre si hipóteses sobre o próximo alvo. E talvez seja mesmo isso o que mais espanta. A capacidade que vamos adquirindo de não nos espantarmos com mais nada. E se não há espanto, não há indignação... Meu receio é de que estejamos mesmo, como já afirmaram alguns pensadores, perdendo pouco a pouco a capacidade de nos indignarmos... Vamos nos acostumando com tudo, sempre à espera do próximo alvo, ou do próximo Cabruuummm!