Ava Gina
Bem antes do nascimento das piriguetes, em todas as partes do mundo já havia gente dando trabalho e outras coisas. Mas nenhum registro se compara as façanhas da filha mais moça do senhor Efêdido Barata e dona Janota Pataquada. Ava Gina, batizada por uma tia que morava em São Paulo que era fã de Ava Gardner e Gina Lolobrigida. Não se sabe ao certo ou não querem antecipar demais o fogo da menina, mas com mais ou menos dez anos de idade ela brincava de cavalo de pau, só que com uma diferença, o cabo de enxada não saia do lugar, era seus fundilhos que deslizavam subindo e descendo. A mãe achou que fosse coisa de “pomba-gira” e mandou fazer um despacho, encheu a encruzilhada de vela preta, cachaça e farofa, no dia seguinte Ava voltava ao seu brinquedo ainda mais sedenta, para o desespero da mãe. O pai foi longe buscar uma benzedeira que no currículo já havia tirado encosto de pinga, alma montada nas costas de caminhoneiro, voz na cabeça de Esquizofrênico e por aqueles dias, expulsara de casa um velho que há tempos morrera, mas não largava em paz a viúva. Chegou defumando a casa, mandou a menina tirar a roupa e deu-lhe banho de arruda com guiné e raspa de tronco de Pau-Preto onde assombração aparece em Sexta-feira santa, dizia coisas que só ela entendia, pulava e peidava. A sessão durou duas horas contadas no relógio dos pais que ficaram do lado de fora. “A menina vai dormir até amanhã, dei a ela um chá de maracujá do mato e soprei fumaça de maconha cascavel no seu nariz, amanhã estará curada!” disse a benzedeira com voz carregada e olho vermelho. No outro dia Ava Gina acordou pedindo comida, a larica era medonha, “Dá um copo de café com leite e bolo? Mãe frite um ovo e me dê com um pão, esquente minha janta!” Comia com voracidade e falava com a boca cheia. “Filha vá com calma, que fome é esta?” Dizia a mãe satisfazendo o desejo da filha. Após comer até o suor escorrer na testa, a menina saiu para fora, olhou o tempo vigiada de longe pelos pais e saltou sobre o cabo de enxada, Caiu sozinha e gemendo com os pelos do corpo eriçados uma hora depois. O jeito foi ligar para a tia que morava em São Paulo, a história parecia estranha, mas um Psicólogo poderia resolver o problema, disse a mulher pelo telefone, dias depois Ava Gina estava abobada sob os arranha-céus e buzinas intermitentes observando tudo. Os pais se preocuparam, muitos meses sem noticias até a tia ligar para dizer que eles se acalmassem. Era questão de tempo e da vontade de Deus, a sobrinha passara por todos os especialistas, por ultimo um Padre exorcista e um Pastor evangélico, estava declarado que nada havia na cabeça dela que pudesse distorcer a personalidade. “A coisa é o fogo abaixo do umbigo!” O lugar em que os pais dela moravam era pequeno, mas as línguas eram imensas, poucos sabiam ler, porém se fosse para descrever a vida do outro em pormenores qualquer seria PHD. Assim Efêdido Barata e Janota Pataquada, arrumaram as tralhas e esperaram a noite cair, quando ela caiu um pouco mais, por volta da meia-noite um caminhão de mudanças partiu dali sem deixar endereço. Ava Gina em São Paulo precisou mudar de brinquedo, já que o cabo de enxada havia ficado em casa.