NAS ASAS DO VENTO

Sonhei que adormeci em meu casulo,

Sem me importar com o sol lá fora,

Ele me acordou com seu canto,

E eu voei em direção a este som doce de notas cítricas,

Eu sonhei que me prendi em suas teias,

E não percebi que seus abraços ocultavam uma sinfonia fúnebre,

Era uma aranha preta de listras amarelas que me devorava,

E eu a borboleta azul que sonhava repousar sobre a flor.

Me desprendi de uma de minhas asas para manter-me vivo,

Caí ao chão, ao lado de um formigueiro,

Ali fui picado e senti minha alma gritar,

Com apenas uma asa sem poder voar,

Esforcei-me na tentativa de um último voo,

Fui conduzido nas asas do vento,

Desajeitado me debrucei sobre uma flor,

Incompleto, me distrai pensando nos açoites da vida,

E não percebi que aquela bela flor carnívora,

Pouco a pouco me abraçava para a morte,

Mas eu me iludi na falsa segurança de sua beleza,

E me desprendi de minha última asa,

Ao chão, novamente uma lagarta sem cor.

Estava escurecendo e eu precisava de um abrigo,

Vulnerável sem asas, talvez não visse um novo amanhecer,

Subi no caule verde de uma planta,

Que guardou em si o calor do sol,

Me aquecendo o peito, enquanto sobre a pele caia o orvalho,

Sim, eu vi aquele novo dia amanhecer,

Mas eu era apenas uma borboleta sem asas,

Uma lagarta que não viveria outra metamorfose.

Um dia observando a sutileza do vento,

Contemplei as folhas serem desprendidas da árvore e flutuarem no ar,

E como a luz do sol clareia o dia, eu vi uma chance de me jogar sobre o vento,

Improvisei com folhas velhas, novas asas,

E aos poucos vi o chão se distanciando de mim,

Novamente eu voava, novamente eu sorria,

De repente ao longe eu vi se aproximar outra borboleta de asas diferente,

Ela sorrindo para mim demonstrou suas cicatrizes,

Era sobrevivente de outras mazelas que a vida lhe havia apresentado,

Então o vento soprava, nos conduzindo na mesma direção,

Encontramos novos jardins, e fomos abraçados por muitas primaveras.

O sonho mais lindo se tornou quando abri meus olhos,

Na cama, presenciei que o vento que sentia no sono era sua respiração sobre mim,

O calor que me guardava do sereno da noite era proveniente de seus abraços noturnos,

E os sonhos novamente podiam voar com as asas deste amor.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 28/03/2017
Código do texto: T5954818
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