UTI na UTI
“Manterei o mais alto respeito pela vida humana, desde sua concepção.”
Trecho do Juramento de Hipócrates, proferido em ato solene pelos novos médicos, tradicionalmente em formaturas, e na inscrição do Conselho Regional de Medicina, um dos mais antigos juramentos conhecidos no mundo e parte da Declaração de Genebra da Associação Mundial de Medicina de 1948.
Desde a Roma antiga que manobras políticas em prol de benefícios próprios eram conhecidas por todos, mas a horda médicos fraudulentos pondo em risco a saúde e a vida de pacientes, isto é inusitado, contudo essa pústula é apenas mais uma de tantas que assolam o povo já sofrido. Os holofotes do Planalto Central, como a sociedade aturdida, agora focam os profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva, fato alarmante, quod absurdum e desumano, pois as UTI’s são dotadas de sistema de monitorização contínua, que atende pacientes em estado potencialmente grave ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos, sendo no caso, a única solução para mantê-los com vida, comportamento nada empírico, não apenas para intensivistas, mas para quem se comprometeu em salvar vidas. Brasília tem sido palco de inúmeros escândalos políticos envolvendo parlamentares, dentre eles os Mensalões e a Operação Lava Jato, entretanto o telejornal Bom Dia Brasil, exibiu no dia dezesseis de março do ano corrente, uma polêmica reportagem onde três servidores e treze médicos, todos do maior hospital público candango, sobre mandados de condução coercitiva, prestaram depoimento, todos acusados de envolvimento em esquema frauduloso. A ex-chefe da UTI, Doutora Vânia Maria Oliveira, é tida como arqui-mentora do esquema fraudulento, com o aval do atual diretor, o médico Julival Ribeiro. A mesma negou qualquer participação. O Ministério Público e a Polícia Civil deram início às investigações após denúncia de outra médica. Irregularidades no registro de frequência e atestados dos servidores, como também escalas de horas extras, falsificação de documentos comprobatórios de folgas, são investigados pelo MP.
A ação foi batizada por Operação Higia, nome da deusa grega da saúde e da limpeza. Em contrapartida, a inexistência da ética profissional aliada ao mau-caratismo dos profissionais envolvidos, ironicamente aponta um dos tumores cancerígenos que vêm definhando o já deficitário e inábil sistema de saúde brasileiro. Todo o material apreendido será periciado, enquanto isso o lixo hospitalar dessa mazela. Os crimes de peculato, estelionato, falsidade ideológica, falsificação de documentos, associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informática serão apurados na investigação. Esse é só mais um dos escândalos que vem à tona no país. Foram pagos R$ 125 milhões de horas extras ano passado pela Secretaria de Saúde. Enquanto isso, o SUS está um caos, pessoas se digladiam por leitos nos hospitais públicos, as UPA’s são uma utopia, os postos de atendimento são deficitários e a saúde no Brasil definha lenta e agonizantemente, e no caso de estado crítico, talvez não haja médico na UTI. Mais um terror psicológico com requintes de ‘O Médico e o Monstro’ a La brasilis, porém não é o primeiro nestes moldes, nem muito menos será o último.