A contadora de histórias
No início da manhã, saí para caminhar e numa rua tranquila encontrei uma velha tristonha largada a pouca sombra dentro de seu quintal. Ela acenou para mim, como súplica, pedindo que eu entrasse. Me apontou um minúsculo banquinho para que me sentasse em sua frente. Então ela começou a falar:
“Aqui tinham muitas plantas! Cada rosa bonita que dava gosto. Ao meu lado tinha uma goiabeira, nem toda goiaba era boa, na verdade a maioria tinha bicho.”
Nessa hora ela pareceu sorrir! E continuou:
“Em volta dessa cerca sempre tinham pés de abacaxi, mas não me lembro de caras boas ao experimentá-los, eram azedos. Ao lado do tanque de lavar roupas sempre rendiam suculentos morangos. A jabuticabeira também não ficava atrás, dava jabuticabas enormes. E a acerola? Menina, chegava a ser doce. Os pés de poncãs, generosos, ficavam perto do abacateiro. Ah, o abacateiro parecia morto e quando ouvia que precisavam cortá-lo, logo dava fruta! As mangueiras eram famosas, pois embalavam os sonos de muita gente na rede ao entardecer.” Uma pausa...
Seu semblante agora era de tristeza novamente. Pude visualizar cada palavra dela. Curiosa, me levantei na intenção de apanhar alguma fruta. Senti a decepção daquela velha! Todas as árvores estavam mortas e só se via mato por todo lado. Com olhos de nostagia ela me disse:
“Já fui o sonho de alguém que se foi! Admirada por minha beleza simples e acolhedora. Visitada por tanta gente e com histórias fascinantes para contar. Fui um “Ranchinho feliz” antes de me tornar essa sombria casa abandonada.”