Formula-1, um esporte de Abastados?

Lembro que uma das primeiras conversas que tive na faculdade, isso há longos seis anos atrás, foi sobre "Formula-1". Enquanto eu conversava e dizia que gostava, mas que não gostava lá muito de futebol, um colega de curso me interpelou dizendo que este era um "esporte de burguês", "Você é burguês para gostar de um esporte que só ricos podem usufruir?". A minha primeira resposta foi um sonoro silêncio. Na época para mim, o esporte a motor era só um esporte, e não dependia de "luta de classe". Cada um tem seu gosto, gosta quem quer.

Então ele continuou, mas não por muito, porque eu simplesmente não sabia o que responder. O que eu sabia na época, era que por exemplo, Ayrton Senna era riquíssimo. E sim, hoje eu sei que muitos pilotos também o eram e hoje ainda são. "Você tem dinheiro para assistir uma corrida ao vivo?". Outra pergunta que só pude responder com meu silêncio. Bom.. eu vi umas corridas que tiveram aqui... "Mas aqui Tassio, não era Formula-1". Claro que não, Salvador não tem tradição com o esporte a motor afinal.

Então hoje, mais velho, eu sei por exemplo que o maior piloto da história, Juan Manuel Fangio, era muito pobre. Para fazer as suas primeiras corridas, basicamente a cidade inteira teve que pagar um carro de segunda mão, aonde ele e outro amigo, eram os mecânicos. E bom... não preciso falar mais dele. Hamilton também, pego pela Mclaren em tenra infância, era muito pobre, mas seu talento deixou os ingleses boquiabertos.

Concordo com ele em certa parte. O esporte a motor, principalmente a Formula-1 é caríssima. Porque como respondi para ele, tergiversando, ela envolve o melhor do melhor. Os melhores equipamentos, os melhores engenheiros e assim como melhor da ciência de sua época. Tudo isso é caro? Caríssimo. Mas se é o melhor do melhor, não há de ser diferente. Ciência é cara por exemplo. Mas, na época eu também não sabia, que muitas das revoluções do esporte a motor nasceram nas garagens de pobres mecânicos ingleses que amavam correr...

Acho que no fundo, lá no fundo, o que estou falando e o que desde lá eu queria dizer com meu silêncio e minhas poucas palavras sobre "O Homem domando o melhor equipamento que o Homem poderia fazer", era sobre... não pensar em divisões. O mundo não é feito de divisões. O mundo é feito de seres humanos. E nada, nadinha de nada mesmo, poderia deter o talento de Fangio, dos mecânicos ingleses da Cooper, e porque não vou citar, mesmo de alguns dos nossos outros campeões do esporte.

Se você só ver divisões, então sua visão de mundo está difusa. Porque você não vê seres humanos e o que nós podemos fazer. Você só consegue ver... gado.