Um livro que não sei de onde veio
Não me recordo o ano exatamente. Era entre 2002 e 2003. Mas lembro-me da capa, do cheiro de guardado. Livro velho, surrado. O nome era Sozinha no mundo. A garota de vermelho da capa me encantava. Eu queria saber quem era ela. Eu queria saber a história dela. Eu
queria saber tudo.
E no meu quarto, naquela casa rosa-clara, em Minas Gerais, eu viajei. Eu saí de mim enquanto lia, vorazmente, sobre a história de Pimpa. Eu tinha poucos livros em casa, e mesmo assim, eram usados, ganhei de alguém que não me lembro. Sabia suas histórias de cor.
As memórias são vagas. Confesso que não lembro detalhes da história daquele livro, afinal já faz muito tempo. E esse, embora não tenha sido o meu primeiro livro, foi o primeiro que me tocou profundamente. Sozinha no mundo foi a minha primeira leitura catártica.
Eu gostei de Pimpa logo de cara. Mas pobre Pimpa. Que história triste, já começa triste. Uma vida de perdas. Pobre menina solitária. A história dela era cheia de emoção, mistério e aventuras. Pimpa era uma garota corajosa, forte. Eu admirei Pimpa, torci por ela. E a história dela me transformou.
Eu nunca mais me esqueci do livro. Mas não sei dizer onde o consegui. Simplesmente, não lembro se ganhei de alguém ou se peguei na escola. Eu não sei. A única memória que tenho é daquele livro em minhas mãos. Assim que eu chegava da escola, abria o livro e me ia embora com a garota de vermelho.
Eu lembro de sentir medo, angústia, ansiedade. Eu lembro de todas as sensações que ele me causou. De repente, eu era a garota da capa, vivendo todas as experiências incríveis. Naquele mundo único que, naquele momento, era só meu.
Sozinha no mundo foi a minha melhor companhia. Fez-me refletir sobre a vida, sobre a minha história. A leitura desse livro, naquele quarto, na minha querida Minas Gerais, onde passei grande parte da minha vida, é uma
das lembranças mais especiais.
O livro te transporta para vidas espetaculares. Livros são como portais mágicos. Não sei o que aconteceu com o livro que eu li. Guardo a lembrança daquele livro velho, que me permitiu um novo mundo fantástico. Pimpa segue por aí, transformando mais vidas.
Eu passarei. Pimpa ficará. Que mania boa dos livros de se eternizar! Um livro que não sei de onde veio, nem para onde foi, mas que estará comigo para sempre.