CRONIQUINHA
Sou do tipo que ainda passa roupas para vestir. É um trabalho solitário e cansativo. Por isso, passo-as sentada. Tenho uma banqueta, cuja altura combina exatamente com a tábua de passar. Sento-me e poupo as pernas, enquanto aliso as peças.
Penso em quanto o trabalho doméstico faz sofrer a coluna de todas as criaturas que o executam. Tudo que se faz numa casa é com a infeliz e sofrida coluna torta.
Como disse, alisar roupas é serviço solitário e me põe a pensar em coisas boas que vivi e também nas tristes. Então, para livrar-me das lembranças, ligo o rádio.
As emissoras de rádio também deixam a desejar com suas programações.
Na inútil tentativa de ouvir algo bom, liguei o celular no Youtube. Resolvi o problema: trabalhei ao som de Mireille Mathieu. Lindas canções ouvi e sumiram as lembranças tristes dos que se foram.
Viajei no tempo.
Roupas passadas, fim da história.
Dalva Molina Mansano