Encontro com a poesia
Numa certa ocasião, conversava, eu com um poeta, e resolvi matar minha curiosidade em relação ao seu processo de criação. Como admiradora que sou do seu estilo, tive meu momento de "tietagem"; a poesia dele me lembra um quartel general comandado por soldadinhos de chumbo e no reino celestial, os anjos são meninos sujos de pé no chão; e disse isso a ele.
Ele me respondeu que ia ficar me devendo, não saberia dizer, não. Que nunca se preparava para construir um poema, mas, pensava sim, nas rimas, nos adjetivos que caracterizariam sua inspiração na hora em que essa surgia. E isso acontecia em momentos impensáveis durante o dia, sempre durante o dia, __ à noite, menina, eu durmo, que é pra carregar a bateria. __Com medo que nossa conversa terminasse aí, voltei à poesia
__ Então a inspiração é fundamental...
__Sim, mas não é condição sine qua non; tem algo maior, mais forte que ela nesse estágio do fazer poético: é o diálogo, conversar com as partes que compõem o poema, deixa a gente com a garganta seca, sabe. Tem uma hora que elas te deixam e ganham vida própria. Basta jogar o tema, fazer a marcação e estão todas em campo. Sabe aquela pelada que você joga de pé no chão, num terreno de uma esquina qualquer..., então é assim, minha poesia buscando chegar junto, e ela rolando, rolando e a terra de repente virou uma grama verdinha, é uma emoção vê-la bater na trave e se atrever na cabeça e... pronto, entrou pelos olhos, fez a sinapse e...,__efeito do choque__ fica, lá, paralisada, imantada, atraindo outras que se juntam, solidarizam e vão deixando pra trás ideias construídas nessa cabeça de vento que sopra bem forte, espalhando, se misturando e formando uma torcida motivada gritando olé...
Ficou um tempo olhando num ponto acima da minha cabeça, como se estivesse escutando os gritos e concluiu: __ Terminar a poesia, também demanda muita conversa, tem hora que você está animado para mais uma partida, mas ela deitou no gramado e dormiu.