Resmungos sobre o verbo estudar
Procurava uma comunidade sobre educação e cultura e foi então que encontrei resmungos bem humorados sobre a escola em algum segmento da sociedade, basicamente dos alunos. Ser aluno é uma constante. Ser professor e ser aluno. Saber e não saber. Vivemos uma época em que tudo se sabe, tudo se compreende. Sabemos até que um gigante pode se afogar num abismo e isso não nos espanta mais. Quando desconhecemos um assunto ficamos reduzidos a pó. Para se alcançar à nota máxima na prova é preciso reunir todo o conhecimento.
O primeiro pecado do estudante é a cola. Formas criativas e formas bobas. Certo vez um professor me flagrou colando. Havia redigido no estojo algumas informações úteis para o êxito.(A essência do ilícito fica na alma por longos anos). O professor percebeu da mesa em que se encontrava, aquele aluno na oitava cadeira, perto da janela, colando. Tudo estaria acabado em alguns segundos. Ele se levantaria e me conferiria um zero redondo. Compensar zero no primeiro semestre, antes das férias, seria afetar o doce capricho da televisão e das leituras. (Nessa época o computador era um aparelho que ocupava salas imensas). O professor não se levantou. Não reagiu como era esperado. Não me reduziu ao fígado de um rato. Ele apenas repetiu meu nome três vezes acompanhado de: “está colando!”. Murmurando. A turma em silêncio permanecia quieta e sepulcral. A sirene tocou e todos entregaram a prova. Sai de fininho em meio à algazarra típica de quem quer sumir no recreio com urgência de um liberto. Decerto o resultado acabaria em perfeito zero. A maldição rondava minha alma de menino. Um tormento. Nada declarando o professor ampliava minha aflição. A mensagem do estojo havia se transformado em vergonha. Eu conhecia o tema e sabia que passaria sem auxílio extra. Ele também sabia. Colar nunca havia sido o meu forte. Não fui punido. E a benevolente naturalidade do professor permanece inesquecível. Foi a lição da vergonha.
Tomara que o professor falhe funcionava bem nos dias de prova que acabavam coincidindo com o clima de tormenta. Tempestades implacáveis onde a torcida era maior. Camaradas alguns professores marcavam a prova com um “se não chover...” haverá avaliação. Mudavam o dia graças à baixa freqüência.
Não gostar de estudar vem logo em seguida costurando o assunto. Há professores que funcionam aos gritos, furiosos sem necessidade. Há professores visuais. Integrados a comunicação moderna. O quadro negro poderia se transformar em visor de plasma, porém os baixos salários e a merenda, tornam o aprendizado um espaço em busca de inclusão social abrangente. Todo professor é na verdade um herói. Um grande herói.
Quanto ao quadro de reprovações sinto que deveria ser considerado o contexto das aptidões. O reexame e o reforço em novos ciclos de turmas. Sem perder o avanço do curso na totalidade. Integrando colegas que podem auxiliar no aprendizado pela facilidade de exposição das matérias. Dando-lhes a chance de utilizar o conhecimento também ensinando. Alguns colegas também foram meus mestres.
Os alunos rebeldes querem mudar o mundo. De casa para a escola há graves problemas. Todos os problemas do mundo. Com fome os números parecem inúteis diante das palavras. A educação afetiva sem eco é um gesto vazio. De certo o que sabemos? Sabemos que é preciso melhorar. Melhorar sempre, estudar sempre. Ouvir com atenção e falar com vagar. Colar a realidade sobre os conceitos.