RARARA QUEM TEM MEDO DO MÃO PELADA?
Meia tarde de final outono de 1965, a vizinha, Dona Elvira, sobre a cerca grita para mamãe:
- Marlene, vamos buscar lenha no parque?
De onde eu estava, torci que mamãe aceitasse, pois queria desbravar o parque.
Mamãe aparece na janela e indaga se não era proibido e a vizinha diz que eram galhos caídos pelo chão. Mamãe não muito confiante aceita o convite, então ela recomenda que cada um de nós levasse uma roupa velha, para embrulhar os galhos e assim não machucarmos o ombro.
Lá fomos nós, ela abriu a porteira de arame na cerca do parque, passamos eu mamãe e minhas duas irmãs, a vizinha e suas cinco filhas, uma escadinha entre 10 e quatro anos.
Mesmo com o Sol escondido pelas nuvens a vizinha calçava um chapelão de palha, aliás, ela sempre estava assim.
Andamos uns 10 minutos pela trilha e já estávamos num capão, quase exclusivamente de camboins, muitos deles secos. Rapidamente elas nos ensinou como quebrá-los sem nos machucarmos.
Cada um com seu feixe pronto iniciamos a volta por outra trilha.
Ela ia como uma boa cicerone, descrevendo e comentando cada planta, assim fomos apresentados aos araçás, butiás, guabirobas, figueiras, cerejeiras, pitangueiras e tantas outras árvores nativas.
A tarde já havia caído anunciando o anoitecer, quando uma gargalhada enorme ecoou num pequeno vale onde corria o riacho que dá origem a barragem ali existente.
Nos assustamos, mas ela nos tranquilizou dizendo que era a risada de um mão pelada, parente do graxaim, mas que era perigoso somente a noite, quando estivesse caçando a própria alma, perdida por uma maldição e então confundindo-a com a nossa poderia querer resgatá-la.
Na época uma lenda rural para nos assustar, hoje de fato o parque Saint'Hilaire é perigoso durante a noite e o dia, mesmo que não haja mais graxains, mas pela presença da bandidagem humana.