As estradas da vida
É difícil dizer que uma estrada, no meio do nada, pode guiar o seu futuro. No meu caso, isso é real. Bem, acho que comecei sério demais, o que é isso, o que eu estou me tornando? Vamos falar sobre comida, que tal ? Churrasco, adoro churrasco. Mas, não, falar de carne nessas horas, fica meio complicado. Carne não, nem previdência, porque previdência também fica difícil.
Melhor falar mesmo da tal estrada. Uma estradinha no meio do nada, me leva à universidade. Essa estradinha, explica muito sobre a vida, e sobre a sociedade como um todo. Por quê? Bem, eu explico.
Eu caminho, todos os dias, oito quilômetros até a universidade. Caminho longo, muitas vezes, estreito, perigoso, pouco iluminado, mas é o que se tem, quando pouco se tem. E o pouco, nesse caso, é dinheiro. Enfim, eu caminho todos os dias, esses oito quilômetros, porém, boa parte do percurso, é asfaltado. A única exceção é uma estradinha, de uns 400 metros, que fica já na reta final, bem próxima ao meu destino.
Acontece, que, todos os dias, passam por mim muitos carros, de outros estudantes que vão em direção à universidade, levantando poeira pra todos os lados. Muitos carros bonitos, novos, aconchegantes, espaçosos. Mas o único carro que para, vejam só, é uma parati 88. No volante do carro muito simples, de bancos velhos, está um homem de uns 30 anos, que veio do interior, com um linguajar rustico, escutando seus sertanejos no som do veículo.
Homem de coração bom, sem dúvida. Mas aí fica a pergunta, porque nós ignoramos tão facilmente os outros?
Eu poderia, sem problema, caminhar aqueles 400 metros até a universidade, afinal de contas, o que são 400 metros para quem já andou 7 quilômetros e um pouquinho. O homem, já sabe que eu caminho, mas mesmo assim, ele para. Falta um pouquinho só, mas ele para. Os outros, não param. E não tenham dúvidas, se todos eles partissem do mesmo lugar que eu, o único que me daria uma carona, seria o bom samaritano da parati 88.
Não sei bem o por que disso, mas fico comovido. Num país onde somos roubados, trucidados, humilhados por quem está no poder, quando deveríamos nos unir, ignoramos uns aos outros. O que me deixa feliz, ao fim do meu trajeto, é saber que ainda há boas pessoas nesse lugar.
Vivemos em pé de guerra entre esquerdas e direitas, e estamos, aos poucos, nos dividindo. Tenho certeza, era exatamente o que eles, lá de cima queriam. Divido para conquistar.
Quanto ao percurso, bem, ele me fez refletir outras coisas, mas essas, eu falo amanhã.