Historinha pão — com — manteiga
Não era bem esse o texto que eu desejava escrever, mas não tive como dele fugir, não houve jeito. Eu estava trabalhando em uma narrativa maneirinha do tipo pão — com — manteiga e, do nada, de lugar nenhum, me veio essa digressão não autorizada, esse nenhum argumento, esse... esse... encosto, sei lá o quê!
O pior é que a parte pão — com — manteiga do meu texto sumiu — parece que eu mesmo a deletei sem querer — e acabei ficando com aquela sensação de quem vê o próprio pão caindo em câmera lenta com a parte da manteiga virada pra areia da praia... areia da praia?!
Tudo bem, praia aqui vai emprestando um cenário técnico a esse texto alienígena, sugerindo uma espécie de logística textual. Isso, até mesmo porque eu não teria um lugar melhor pra ilustrar a sensação de quem vê o pão caindo lentamente com a parte da manteiga virada pra baixo. Aposto, inclusive, que se o cenário fosse doméstico, iria aparecer logo alguém pra dizer “pega! — aqui só passa conhecido”. Mas aí a minha tese do pão com manteiga lambuzado de areia, a representação daquela coisa que antes era simples e funcional e agora não mais, poderia ir pro beleléu. Afinal de contas, pão com manteiga e areia é algo tão útil quanto água em pó. Deixa aí, então, o cenário da praia; dá mais credibilidade ao meu ressentimento por não estar escrevendo na base do pão — com — manteiga.
Mas eu insisto em dizer que não era esse o meu texto original, o da narrativa maneirinha de um bom e simples texto pão — com — manteiga. Considero isso um absurdo, não poder concluir o meu relato linear. Gostaria tanto que as pessoas lessem aquela minha historinha pão — com — manteiga...