Fia nela
A velha estaçãozinha do Brumado - convertida em espaço cultural - não deixa de nos surpreender. Não bastasse lá funcionarem a Biblioteca, o Centro de Computação e a área para a Banda de Música Maestro José Jacinto se apresentar, inscreve-se lá, na parede frontal uma homenagem da Prefeitura de Pitangui, a uma das muitas e tantas Marias do povoado, a Fia da Otília, depois, casando-se, Fia do Arísio Fiel, e já viúva, Fia só...
Conheci-a bem. Contemporânea de meus pais, era da geração dos antigos e viveu bastante para ver filhos criados, netos e bisnetos chegados. Sempre no seu Brumado, onde a vida revolvia em torno da fábrica de tecidos, a "fapa" de cada dia, que tanto sonhos e algum pesadelo, mesmo para uma funcionária-modelo daria. Os horários eram rigorosos, e os gerentes - como os pintou Noel Rosa nos seus Três Apitos - impiedosos, impertinentes.
E no entanto, em meio à algodoaria, reinava a paz, quase-harmonia. E as famílias iam-se formando, crescendo, se empregando ou pra outras bandas se mandando. Mas os mais velhos, prudentes, e encantados, iam ficando. Já não sei se Fia foi da tecelagem ou da fiação. Sei que de muitas décadas foi sua labuta, cumprindo horários e metas de produção.
Mas não esmoreceu e décadas de aposentada também viveu. Viu a filha Mônica ir para o exterior, voltar gastando seu inglês, viu o primogênito Agenor partir ainda menino para São Paulo, a busca e ao encontro de unas más buenos aires, e viu o resto dos filhos dando seus pulos e fazendo suas vidas.
Entre as perdas, pranteou a partida prematura do Arísio, consumido pelo álcool, mas seguiu em frente, confortada por sua amiga gente. E não faz muito tempo que ela também nos deixou. Mas mais Fiel ao torrão natal acho que ninguém mais achou.
E desde uma exata semana, o dez de março, sua lembrança se faz mais presente por meio daquela placa reluzente, dando nome ao pátio da Estação, onde outrora se assentavam os trilhos e passava a maria-fumaça. A Fia Fiel é que não passa, fica conosco, cheia de graça.