FUMAR ERA UM LUXO
Amigo chegado faleceu esses dias. Diagnóstico: enfisema pulmonar. Ele que nunca fumou, atento à propaganda de que se você não quiser morrer de câncer, fique longe do cigarro.
Quem se lembra da década dos oitenta? Nunca se fumava tanto. Nas mesas da agência do banco onde trabalhava, não faltavam cinzeiros. Alguns colegas acendiam o próximo cigarro com a brasa do anterior. As faxineiras todos os dias pegavam-nos, colocava numa bacia d’água para lavar. Nas gavetas era frequente encontrar maços de cigarros Minister, o mais caro. Mas nunca se ouvia de que fulano morreu de câncer. Foi nessa época que as mulheres começaram também a fumar. Alivia a ansiedade, diziam. Piteiras, cigarreiras, isqueiros sofisticados eram objetos de desejo da imensa maioria das mulheres da elite.
Atualmente raro encontrar fumantes, a não ser algumas mulheres. Até local reservado para tal vício foi abolido. Só se pode fumar em logradouro público, por enquanto.
O único objeto que ninguém possuía vergonha de pedir era o cigarro. Não importava se para um estranho. E a ética dominante era não recusar.