Um dia de vendedora
®Kate Weiss
Conheci o Sr. Schumacher quando eu tinha lá meus quinze anos. Morávamos na mesma rua, numa pequena cidade de Santa Catarina. Ele era o proprietário da maior loja de roupas da cidade e eu, todas as manhãs, passava por ali - eu indo para o trabalho e ele abrindo as vitrines.
Durante alguns meses apenas nos cumprimentávamos, mas naquela manhã eu passava apressada, e quase nem ia cumprimentá-lo, pois estava atrasada e nem o percebi. Então ele chamou:
- Ó menina, aonde você vai correndo assim?
- Hoje estou atrasada Sr. Schumacher preciso correr - disse-lhe eu.
- Então, trabalhas aos domingos também agora?
Foi assim que nós começamos a nos falar até que, num dia das minhas férias, ele me convidou para substituir uma das suas vendedoras que estava de férias. Havia muito para vender lá : confecções, toalhas, cobertores e também tecidos vendidos a metro. Nas horas de folga, ficávamos conversando sobre as histórias de consumidoras que visitavam aquela loja. Foi assim que me preveniram que havia uma cliente com mania de levar "sem querer" coisinhas dentro da sua bolsa; quase sempre as tesouras de cortar tecidos. Numa tarde, em que estávamos lá sem muito que fazer, foi sugerido prender a tesoura a um longo elástico para que a "freguesa" não pudesse carregar mais as tesouras da loja. E assim foi feito.
Num daqueles dias, chegou a tal senhora e começou a separar mercadoria para levar e, entre toalhas de banho e tecido para costurar roupas de cama, a tesoura - "aquela" que ela olhando para os lados conseguiu enfiar em sua bolsa. Pacote pronto, ela se despede da vendedora e se apronta para sair, toda garbosa como se nada houvesse feito de mal quando, de repente, ela sente um puxão e se assusta vendo a tesoura engatada na alça da sua bolsa.
Entre o vermelho e o branco ficaram as cores que coloriam seu rosto, mas ainda assim pergunta inocentemente:- Como será que essa tesoura veio parar dentro da minha bolsa? Algumas vendedoras se esconderam, inclusive eu, pois a vontade de rir era tanta que não conseguia parar.
Muitas vezes ainda sorri sozinha lembrando da expressão de " inocência" daquela senhora.
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[ Escrito para o tópico Crônicas do Fórum do RL]