Entre vistas
Alguém (uma mulher) resolve m'entrevistar. Sala com ar condicionado. Ar oitentista.
-- Nome.
-- "Dáblio Vê" Fochetto Junior (como consta na capa do "Nº 1643").
-- É verdade que é teu preferido esse?
-- Sim. O único em prosa que eu cheguei a publicar. Embora tenha escrito outros, claro.
-- "O livro dA Falecida", certo? É assim que te referes a ele?
-- Na klar. Sim. Positivo. Bom apelido esse, não? Gosto do apelido também.
-- Certo. Você compara livros com CDs e vice-versa. Comente isso.
-- Er... Sim, sim. São objetos que tocam o coração da gente, não? Têm um peso em nossas vidas. Um valor (marcam época, sentimentos, enfim, tomam parte em nossas vidas). Livros não teriam, assim, uma trilha sonora. Mas podem ser lidos com alguma música de fundo. Ou a mente bem preparada, acostumada a viajar "além das nuvens", pode se valer dessa faculdade humana de ir além do que se está acostumado e atingir patamares superiores. A frações da velocidade da luz. (Talvez em velocidades quase tão próximas dela.) Agora, por exemplo: esse som de fundo (eu imagino que seja "The Crystal Voice", trilha sonora de "Firestarter", assinada pelo Tangerine Dream, é algo que casa muito bem com uma continuação do "Nº 1643".
-- Uma continuação? Então é verdade que estás a preparar uma saga do 1643?
-- Sim. Mais dois, três livros. Só não tenho muita certeza. Talvez continuações dele possam "estragar" a ideia original, de um livro único, de um único volume, que desse conta, por si só, de, ao mesmo tempo, registrar a passagem de Camila pela Casa e deixar o público alvo um tanto perturbado. Afinal, não se trata, como algumas pessoas já o sabem, de um livro como outro qualquer. É um enredo complicado. Cheio de subjetividade, para citar um exemplo. Ademais...
-- Sim? "Ademais..."?
-- Hoje contam duas semanas para se completar um quarto de século de minha entrada (se não posso falar numa "aparição" minha, não? [risos]) na Casa dA Falecida. Isso tem um valor sentimental e simbólico muito forte para mim. Lembro-me de quando se completaram dez anos apenas eu já tinha algumas sensações estranhas ligadas a isso. Certa noite, acho que em meados de fevereiro de 2002, eu acordei pela madrugada e, sentado na lateral da cama, fui tomado subitamente por uma forte sensação de não pertencer a esse mundo. De não ser de carne e osso. De estar no plano astral. Como canta Dave Mustaine em "Mary Jane". Uma canção que nada tem a ver com aquela droguinha da moda, tão em voga nos discursinhos de adolescentes e jovens revoltadinhos. Esse som do Megadeth é sobre uma Bruxa. A gente precisa sempre de se informar melhor sobre as coisas, se não... Se não sai falando besteira por aí. Mas voltando ao que eu dizia...
(continua...)