Praia da infância

As "praias" da minha infância em Arcoverde eram o Rio da Rua Velha, o Açude do Tamburil, o barreiro de Seu Leonardo e o barreiro de Seu Emídio. O rio da Rua Velha, devido à lama abundante, não se prestava para os banhos, ali o bom mesmo era pescar piaba e bater pelada com bola de borracha nas suas margens. No Tamburil a gente só ia esporadicamente porque, além de ficar longe, ele era reduto da turma do Cuscuz, nossos rivais. Escassas também eram também nossas visitas ao barreiro de Seu Leonardo, este proibia os banhos, dó permitia se seus netos, Cazeca e Preá estivessem presentes. Assim a nossa "praia" se resumia ao barreiro de Seu Emídio.

Para chegar nele a gente pulava uma cancela que ficava de um dos lados do campo de futebol do Ginásio Cardeal Arcoverde e andava uns dois quilômetros, por um caminho cheio de atalhos. O barreiro, na verdade, era um açudeco. Não era grande, mas também não era pequeno. Até a metade não dava pra cobrir o cabrinha, mas dali em diante ia ficando fundo, acho que com mais de dois metros de prundidade e aí o sujeito tinha que saber nadar. A água, evidentemente, não era muito limpa, era barrenta e cheia de lôdo. Mas a gente não pra lá apenas tomar banho, mas para cacar de baleadeira, comer fruta de palma e nos divertir a valer. Levávamos eapadura, pão doce, cocadas, mariolas... Sim, porque chegávamos às onze da manhã e só votávamos cinco da tarde, com os olhos vermelhos de tanto mergulhar no barreiro.

O mais fivertido eram as brigas e as confusões. Havia um ponto pacífico: os mais fracos saíam perdendo. Muitas vezes ficávamos escondidos no mato enquanto os mais novos tomavam banho, eles deixavam as roupas na beira do barreiro e, sorrateiramente, nós escondiamos as roupas deles. Os garotos choravam, ficavam desesperados e só entregávamos as roupas na cancela, os pobres nus e chorando e ainda tinham que desamarrar as roupas devido aos nós de ceará.

Quem mais sofria eram os marinheiros de primeira viagem, principalmente aqueles que não sabiam nadar, caíam na esparrela dos amigos da onça que diziam ser bem razinho e aí... Tomavam um bocado de água salobra antes de serem arrastados para a margem. Um desses incautos foi um tal Geraldo Liberal, apelidado "Libra", ele não sabia nadar e tinha um medo danado de entrar no barreiro. Um dia, mesmo vestido pegamos o carinha e levamos pro paredão, na marra, ele era todo falante e gritava: "Amigos meus, não me sacudais (?) no açude, eu vos peço...". Não teve jeito, jogamos o carinha na água e pulamos em seguida e ele só teve o susto e bebeu alguns litros daquele suco arretado. Nunca mais foi ao barreiro.

Quem andava por lá tambem era uma dona meio doida, muito suja, chamada Nazinha que foi a professora de sexo da tropa, qualquer moedinha, doce, mariola... e Nazinha iniciava ou satisfazia o banhista carente. Outros optavam, no que tange aos folguedos sexuais, por uma jumenta bem mandinha que vivia no local. Botaram nela o apelido de Marta Rocha, o carinha se satisfazia com ela pensando no violão baiano.

Com o crescimento da cidade a nossa praia desapareceu, mas conyinua viva e bulindo nas nossas mentes e corações. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 14/03/2017
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